23/08/2025  21h39
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
COLUNISTA
Sidney Borges
16/06/2004 - 16h18
A verdade sobre Hans Staden
 
 

Poucos sabem a verdadeira história de Hans Staden, o alemão que escapou ileso dos índios em Ubatuba. O marinheiro português Manoel Manoel, também conhecido como "O Duplo Manoel" deixou registros publicados na forma de livro pela editora Bertrand de Lisboa, em 1746. Os manuscritos foram encontrados, por acaso, em um bordel da cidade do Porto onde Manoel Manoel passou os últimos momentos antes da crise apopléctica fatal. Ele também esteve preso em Ubatuba e também quase foi comido, salvou-se quando era transportado para Bertioga, tendo a canoa naufragado numa ventania. Manoel Manoel relata que o alemão Hans Staden ensinou aos índios alguns segredos da culinária germânica, dentre eles o preparo do verdadeiro Eisbein. O cacique era glutão e colocou a tribo caçando queixadas. Há que haver suínos para haver Eisbein. Além de Einsbein os nativos aprenderam a saborear Kassler com mandioca frita. Infelizmente não havia malte e cevada para fazer cerveja, o que provocou profunda crise de melancolia em Hans. Havia aguardente de gengibre, quebrava o galho, mas não podia ser comparada a um chope bem tirado. Para os índios, o prato definitivo seria Hans, que deveria ser preparado, segundo receita dele mesmo, ensopado com lagosta e "dill". Lagostas havia muitas, porém dill não era dos temperos mais encontradiços na região. Na verdade não havia temperos na região. Dessa forma foi organizada uma expedição para buscar o ingrediente fundamental do banquete.

Primeira expedição do dill

Dois filhos do cacique, Lua Nova e Lua Cheia e um ajudante, Pé Chato, embarcaram em uma canoa guarnecida de doze remadores. Levavam um mapa desenhado em folha de bananeira. Eles deveriam procurar a aldeia de Wullertal, a oeste de Berlim, onde dona Ermengard, prima da mãe de Hans teria prazer em fornecer alguns maços de dill por um preço razoável. Chegaram à aldeia depois de quatro meses, dona Ermengard ficou surpresa com a visita, mas ao ouvir falar do filho da prima recebeu-os muito bem, só estranhou vê-los nus, uma extravagância em temperaturas abaixo de zero. Comprou, a preço de ocasião, roupas de tirolês para todos. Depois de muito negociar o tempero, chegaram a bom termo. Com três maços de dill e um remador a menos, o grupo embarcou, em Hamburgo, de volta para casa. O remador Mandioca Longa casou-se com dona Ermengard, tendo se tornado próspero merceeiro e músico da banda local. Depois de uma escala em Amsterdã, a expedição foi capturada por piratas turcos e levada para Istambul. Foram salvos por um triz, confundidos com membros da última tribo de Israel que caíram no rio Ganges. Como não falavam turco e os turcos não falavam tupi, acabaram internados numa escola religiosa e hoje seus descendentes pregam os ensinamentos de Maomé no deserto. Como a expedição estivesse demorando e as queixadas, cada dia mais difíceis de encontrar, o cacique resolveu organizar outra expedição.

Segunda expedição do dill

Desta vez foram enviados dois sobrinhos do chefe, Natureza Morta e Anta Velha, além de dez remadores, um papagaio e uma freira capturada dos franceses. Levaram outro mapa desenhado em folha de bananeira e após dois meses de navegação por mares bravios, acabaram aportando no Hawai. Foram recebidos como primos, com exceção da freira que depois de muito resmungar foi dada para o Dragão de Komodo de estimação do chefe Hullabaloo. Como não existisse dill no Hawai, eles partiram com o coração partido, levando além dos remadores, as esposas havaianas e a freira que o dragão com polidez recusou. A canoa passou a navegar de forma temerária, estava pesada, além disso as mulheres discutiam o tempo todo. Uma semana depois da partida havia um clima horroroso a bordo, uma comissão de mulheres queria jogar a freira no mar, o papagaio enjoado gritava socorro sem parar, enfurecendo o piloto que acabou perdendo o rumo. Finalmente aportaram numa ilhota quase deserta, habitada por náufragos haitianos, um padre holandês e uma ovelha. Tiveram sorte, sem outra coisa para fazer, o padre cultivou uma pequena horta e, quem diria, no meio do Oceano Índico eles finalmente encontraram o tão desejado dill. Dessa forma, depois de negociar cinco maços bem servidos da erva, os viajantes puderam retomar a viagem. Deixaram a freira na Ilha. Dias depois os haitianos e o padre construíram uma jangada e fizeram-se ao mar na calada da noite. Quando a expedição retornou a Ubatuba com a carga de mulheres rechonchudas, foi organizada uma grande festa. Infelizmente um pequeno detalhe estragou o brilho do evento. O padre holandês, distraído embrulhou coentro no lugar de dill, não foi possível comer o alemão. Sem o tempero ficaria insosso. Frustrado, o cacique tentaria mais uma vez, mesmo porque as queixadas haviam acabado, as últimas tinham sido importadas de Caraguatatuba.

Terceira expedição do dill

Antes de falar da expedição propriamente dita, "O Duplo Manoel" fez algumas fofocas sobre a aldeia. Havia um certo clima de insatisfação com o cacique "Quiquiqui", que só pensava em organizar expedições e estas custavam caro. Para conseguir dinheiro para as campanhas ele aumentava os impostos e a população estava pensando em mudar o governo, já que sem outras fontes de renda além dos visitantes franceses, a coisa ia mal. Uma previsão feita por uma cigana de Roterdã, consultada por "O Duplo Manoel", indicava que no princípio do século XXI tudo estaria igual nas plagas ubatubanas, desculpem, ubatubana é a pinga, plagas ubatubenses. Também havia uma forte corrente contra as expedições por parte dos jovens. Eles temiam enfrentar os mares e ter esposas como as havaianas trazidas na última expedição. Muito gordas!

Sabendo do fato através de seus espiões, Quiquiqui resolveu enviar uma expedição terrestre. Quem sabe, nos campos verdejantes do alto da serra poderiam encontrar a tão procurada erva. Assim partiram oito carregadores chefiados pelo filho-bastardo do chefe, "Onde Estou", que embora um tanto desorientado foi o único disponível. Diz o ditado popular, "Já que só existe tu, vai tu mesmo". A expedição partiu entre lágrimas e discursos, caminhando na direção ocidental até chegar na região onde hoje existe a cidade de São Tomé das Letras. Uma súbita tempestade fez com que procurassem abrigo numa caverna. Com a chegada da noite, cataram gravetos e acenderam um fogo acolhedor. Dormiram protegidos dos lobos Guará, comuns na região. Na manhã seguinte, ao retomar a caminhada, notaram estar em uma região estranha, muito diferente daquela na qual caminhavam no dia anterior. A paisagem fez com que o chefe da expedição, "Onde Estou", perguntasse aos demais, onde estamos? Estavam no altiplano andino, transportados por uma fenda temporal que liga São Tomé das Letras a Machu Pichu. Segundo altos estudos cabalísticos, a passagem abre-se quando Plutão entra em conjuntura com a ponte da Vila Maria, em São Paulo, sendo, portanto estranho que estivesse aberta. A ponte da Vila Maria não existia naquela época! Mistérios sempre há de pintar por aí. Enfim, "Onde Estou" e sua troupe, roxos pela falta de oxigênio começaram a caminhada em busca do tão desejado dill. Depois de andar horas a fio pelas montanhas chegaram a uma aldeia, onde exibiram o desenho ilustrativo da erva, feito por Hans numa folha de bananeira. Que falta fazia o papel! O montanhês olhou atentamente e em seguida trouxe folhas de coca. Todos mastigaram e aprovaram. Depois de comprar uma Lhama e dois sacos daquela folha maravilhosa continuaram a caminhada sem nem mesmo lembrar do dill. Acabaram andando até atingir o Oceano Pacífico. Com dificuldades para achar uma canoa e sem um bom Guapuruvú para construir uma, embarcaram numa caravela portuguesa. Imaginaram que iria para o Brasil, acabou indo para Goa, na Índia. Surpresa, além de ser parecida com Ubatuba, Goa tinha todo o dill do mundo. Onde Estou, exultante, enviou sinais de fumaça para Quiquiqui e tratou de comprar a melhor canoa que havia. Embarcaram com dois sacos de dill e embora o piloto fosse um tanto desorientado a viagem transcorreu sem incidentes até terminar em Ubatuba, onde uma grande festa os esperava. Todos estavam felizes, apenas Hans Staden mostrava apreensão o que causou preocupação em Quiquiqui. A tensão poderia endurecer a carne. Na chegada a maior atração não foi o dill, sim a Lhama que cuspiu na cara de Quiquiqui e ganhou a afeição da massa ignara e indignada. Antes do banquete final, Hans preparou um jantar a base de lagosta grelhada com molho de manteiga e dill. Infelizmente no lugar da manteiga ele teve de usar banha de queixada. Também faltou o vinho branco gelado, mas também querer que tudo esteja nos conformes na terra de Cunhambebe é demais. Quiquiqui, avesso a tudo o que é bom, detestou o dill e só de pensar em comer o alemão com aquele tempero passou mal. No outro dia chamou o secretariado e mandou que levassem o alemão para longe. E também mandou que jogassem o dill no mar. Em seguida chamou Onde Estou e disse para ele devolver a Lhama e trazer o dinheiro de volta. Dessa forma Hans Staden foi poupado de virar ensopado num dia e croquete no outro, já que os índios gostam de usar o princípio de Lavoisier. Tudo o mais que se escreveu a respeito é ficção. Quiquiqui que era primo de Mandioca Longa, foi destituído do cargo de cacique e mudou-se para Berlim. Ele adorava os dias nos quais soprava um vento chamado "Passat".


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
ÚLTIMAS DA COLUNA "SIDNEY BORGES"Índice da coluna "Sidney Borges"
27/01/2010 - 17h10 Retratos do cotidiano
07/11/2009 - 12h09 Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada...
18/10/2009 - 06h01 Ubatuba em estado de alerta
29/09/2009 - 17h00 Turismo e educação
25/09/2009 - 17h11 Crônica esportiva
02/09/2009 - 17h01 Trivial da culinária revolucionária
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.