Hoje, todos os meios de comunicação de massa estão difundindo notícias de manifestações do MST para rememorar os dez anos do "Massacre de Eldorado dos Carajás". Na televisão, aparecem novamente as cenas de hordas armadas de foices e enxadas atacando a tropa da Polícia Militar do Pará que, acuada, recua atirando. Como já vi tais cenas muitas e muitas vezes, noto que a cada ano estão mais censuradas. Atualmente nem aparecem mais os rostos apavorados dos soldados. Em todo o país estão sendo promovidas invasões de terras para "comemorar" o infeliz evento. Em Pernambuco, um dos invasores, entrevistado, reclamou da falta de justiça que permite que esteja em liberdade o comandante do batalhão encarregado de restabelecer a ordem em Eldorado dos Carajás. O saque de um caminhão carregado com biscoitos fez parte dessas "comemorações", bem como a interdição de diversas rodovias federais e estaduais. Hoje, provavelmente essas cenas tomarão conta dos mais importantes jornais do mundo, a demonstrar que nosso pobre país ainda não aprendeu a se administrar e está muito longe de sair do estágio de subdesenvolvimento. Vêm-me à lembrança, então, as "ligas camponesas" que, no Nordeste, na década de 60, invadiam fazendas e aterrorizavam trabalhadores. Lembro-me bem do medo que vi estampado nos rostos dos militares da PM do Pará, em 1996, numa clara demonstração de que aquela tropa havia perdido a confiança em seus chefes e não tinha mais a menor condição de ser empregada, o que obrigou a mobilização de frações do Exército. Em nosso Brasil "moderno", multidões de desempregados freqüentam aulas de guerrilha em escolas que já não podem nem ser chamadas de clandestinas, de vez que operam à luz do dia, nas barbas do governo. Nas estradas e nos campos, vagueiam hordas armadas com paus, foices, machados e enxadas, a invadir propriedades privadas, a queimar plantações, a matar homens e animais e a destruir máquinas agrícolas, qual novos bárbaros a serviço de um novo Átila. E nossas autoridades assistem a tudo absolutamente impassíveis. Será que não estudaram a História? Por que a Justiça não exerce seu poder coercitivo? Por que os governos estaduais não asseguram a ordem pública, como é sua obrigação? Por que a Polícia Federal não desobstrui as estradas, como é seu dever? Por que se omitem todos, deixando ao cidadão de bem, ao empresário, ao fazendeiro, o ônus de se defender e, depois, o tratam como criminoso, como responsável único pelas "mortes no campo"? Por que o Governo Federal apóia os invasores e lhes fornece alimento mesmo sem, para isso, dispor de recursos orçamentários? Por que são toleradas paternalisticamente as invasões de repartições e prédios públicos? Senhores, até onde esperamos que vá a paciência do povo? Nota do Editor: Mário Ivan Araújo Bezerra é oficial-general da Reserva do Exército.
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