Vimos da não cassação de deputados mensaleiros, uma óbvia falha moral de nosso Congresso. Mas vimos também da cassação de Roberto Jefferson e, melhor, do arqui-poderoso José Dirceu. E, melhor ainda: vimos da denúncia inesperada, competente, pontual e justa do procurador-geral Antônio Fernando de Souza contra o que ele chamou de "quadrilha de criminosos". Que País é esse, afinal? Justo ou injusto? Da bandalheira ou dos homens e mulheres dignos? Dos dois, penso. Faço coro com Ferreira Gullar no belíssimo e inesquecível poema "Traduzir-se":

"Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira".

A minha tese, a que tenho defendido desde que estouraram os escândalos com a denúncia do mensalão por Roberto Jefferson e tornado claro como os petistas operavam, ficou provada. O partido e seus dirigentes portavam-se como se fossem revolucionários que estivessem com o poder ditatorial na mão, acima do bem e do mal, das leis. Ignoraram que as instituições democráticas estavam a viger e que os órgãos autônomos do Estado só são manipuláveis até certo ponto.

E o mais grave: ignoraram que existem pessoas íntegras, que ainda é possível manter-se íntegro no mundo corrompido do petismo. O procurador-geral deu-nos uma sobeja prova de inteireza de alma. Louvado seja.

Temos uma banda podre que está no poder de Estado, controla o Executivo, uma larga minoria no Congresso e alguns importantes membros da Justiça. Mas as instituições funcionam, a imprensa é livre, a ditadura não se instalou e até onde sei as Forças Armadas ainda continuam imunes ao petismo e ao comunismo. Por isso os líderes petistas não arriscam um golpe, pois aqueles que estão mudos poderiam enfim dar voz aos homens de bem, se tivessem um bom pretexto. Nossas Forças Armadas sempre estiveram ao lado de seu povo e não seria agora, em meio a essa oclocracia, que mudariam de lado.

Lula vai acabar seu mandato, pois não há mais tempo para uma saída exemplar, expulso pela classe política por meio de empeachment. Sairá pelo voto indignado da maioria que trabalha e sustenta essa grande Nação. A indignação é geral. Mesmo aqueles que abraçam a utopia socialista não podem fechar os olhos ao malfeito sistemático que tem sido a arte de governar petista. A parte que delira nesse grande País será expulsa do Planalto democraticamente. Esse é o valor da democracia, que tem mecanismos de autocorreção que nenhum outro sistema político permite.

Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.