Pesquisadora da FM desenvolveu em seu doutorado um modelo que, por respeitar características de nossa população e levar em conta também aspectos emocionais do indivíduo, diminui as chances de diagnósticos errados A medicina brasileira acaba de ganhar um modelo de análise do comprometimento mental causado pelo Mal de Parkinson adequado aos padrões da nossa população. O método, desenvolvido na Faculdade de Medicina (FM) da USP, já foi comprovado e integra a bateria de testes neuropsicológicos a que são submetidos os pacientes para saber se podem ou não fazer uma cirurgia. Para uma análise precisa, esse modelo apresenta uma nova característica, que é a importância de aspectos subjetivos como história de vida e estado emocional do paciente. A neuropsicóloga Kátia Osternack Pinto, que desenvolveu o método em sua tese de doutorado, justifica a necessidade de um modelo nacional de diagnóstico: "o padrão usado internacionalmente (dos EUA) não respeitava as particularidades do País, como o baixo índice de instrução de uma parcela de nossa população". Ela explica que a cópia de um desenho complexo, feita por um paciente que não está habituado ao manuseio de papel e lápis, pode levar a um erro de interpretação, se comparada à produção de um norte-americano com maior nível de instrução. Em sua pesquisa, Kátia realizou testes para avaliar funções como linguagem, raciocínio, atenção, percepção visual (interpretação do que se vê), memória e funções executivas (planejamento e organização das atividades) em 60 pessoas com mais de 60 anos (três grupos: saudáveis, em estágio moderado da doença degenerativa e em estágio bastante grave). Entre os testes aplicados, atividades de copiar desenhos e palavras, ouvir e contar estórias, nomear figuras e jogos que exigiam raciocínio lógico e planejamento, uma das habilidades mais prejudicadas pela doença. "O doente de Parkinson não tem dificuldades para reter informações, mas para encontrar onde as armazenou", explica Kátia. Diagnósticos mais precisos Os resultados mostraram que as limitações impostas pela doença podem dificultar a realização de certas tarefas, o que não é sinônimo de um estágio de demência (e nesse caso a cirurgia não é aconselhada). "Uma pessoa com grande comprometimento motor (rigidez ou tremor) vai ter dificuldades para desenhar, pode distorcer uma figura, mas isso não significa que ela não tenha conseguido interpretá-la". Ela afirma ser necessário levar em consideração outros pontos, como a idade e a atividade exercida pela pessoa, pois alguns obstáculos podem ser explicados pelo raciocínio mais lento natural em idosos ou a uma vivência cultural não muito diversificada. Segundo a pesquisadora, as análises do estado emocional e da vida pessoal do paciente permitem que o diagnóstico possa ser dado com maior precisão. Dos 20 portadores da doença em estágio avançado que faziam parte do grupo analisado, 14 teriam sido considerados demenciados por um profissional pouco experiente que fizesse o diagnóstico apenas pelas pontuações obtidas segundo os padrões norte-americanos. Sendo que apenas um realmente tinha esse quadro. "Eram pessoas com funções de planejamento muito afetadas ou com problemas de mobilidade, que se classificadas como demenciadas perderiam a chance de fazer uma cirurgia que prolongaria por algum tempo uma melhor qualidade de vida", esclarece a pesquisadora. O novo modelo de diagnóstico adaptado aos padrões brasileiros será divulgado em revistas científicas. Para Kátia, a maior conquista é o fato de ser um modelo de diagnóstico neuropsicológico que pode ser adaptado para outras doenças neurológicas.
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