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Opinião
28/04/2006 - 17h21
As trombetas do besteirol
Ubiratan Iorio - Parlata
 

Aqui, ali, lá, acolá, algures, alhures, em todos os lugares, ouve-se o desafinado sonido de trombetas soprando o besteirol esquerdopata, anunciando o fim do que teria sido uma era liberal (que chamam, com absoluta impropriedade, de "neoliberal"), na América Latina. Há, entre nossa pretensa intelligentzia - que mais parece uma "burritzia" -, uma espantosa ignorância do que se entende por liberalismo, que causa a psicótica convicção de que o mesmo teria sido adotado em nossas plagas e fracassado. "A América Latina é ingovernável", proclamou um dia, do alto de seu cavalo e de sua ciclotimia crônica, Simón Bolívar, cujo espírito o louco perigoso que preside hoje a Venezuela parece crer haver se "reencarnado" em seu untuoso corpo.

Alguns dos trombeteiros chegam a falar em "viúvas de Hayek e de Friedman", mostrando desconhecer que só se pode chamar de viúvas aquelas cujos maridos morreram e que - exceção feita ao Chile - as idéias dos referidos economistas sequer chegaram a flertar - ou, como se diz hoje, a "ficar" - com a América Latina. Trocaram apenas olhares e dançaram duas ou três músicas e nada mais. Casamento, nem pensar: a noiva nunca foi flor que se cheirasse...

Liberalismo é muito mais do que privatizar timidamente meia dúzia de dinossauros, como o governo tucano fez, ou do que entender que a inflação é um mal desnecessário e, portanto, combatê-la com vigor e rigor, ou, ainda, gerar superávits primários de forma errada, onerando os contribuintes e contendo verbas públicas necessárias. A opção liberal consiste em, primeiro, estimular a economia de mercado; ora, no Brasil, o governo controla mais de 50% do PIB! Segundo, em destributar; ora, estamos com uma carga tributária perto dos 40% do PIB e com um sistema de tributos que é um verdadeiro manicômio, com fortes choques elétricos sobre os contribuintes, para sustentar as quadrilhas que vivem às suas custas! Terceiro, em promover a reforma administrativa do Estado-elefante; ora, tanto o governo tucano quanto o atual nada mais fizeram do que aumentar o número de funcionários públicos, sendo que o do presidente Lula (aquele que de nada sabe), em apenas três anos, empregou cerca de 120 mil "companheiros", apenas por serem "companheiros"! Quarto, em mudar o regime de previdência estatal, do suicida sistema de repartição para o de capitalização, ao mesmo tempo em que dar liberdade de escolha para os segurados que preferirem deixar de "contribuir" para o anacrônico INSS e passar para planos privados; ora, isto nem se discute em nosso Congresso de sábios e honestos membros! Quinto, em abrir a economia para o comércio, que sempre foi fonte de geração de riqueza e empregos; ora, nossa participação no comércio internacional repousa, há muito tempo, em torno do ridículo percentual de 1%! Quinto, em partidos políticos programáticos e na abolição do voto obrigatório; ora, ambos esses requisitos sequer merecem consideração por parte de nossos homens públicos, porque a eles não interessam! Sexto, em desburocratizar; ora, perde-se, em média, 152 dias para obter-se autorização para abrir uma empresa! Sétimo - e de importância equivalente à economia de mercado -, um verdadeiro estado de Direito, sem privilégios, sem politização do Judiciário e calcado em normas de justa conduta simples, gerais, prospectivas e iguais para todos; ora, até um jaboti sabe que existe um mar de privilégios, que a Justiça vem se politizando de forma crescente, que nossa constituição "cidadã" já nasceu anacrônica e que um caseiro não é tratado um presidente do Sebrae ou um ex-presidente da Câmara e colegas de traquinagens com "recursos não contabilizados", absolvidos vergonhosamente por seus pares.

Não há - nunca houve! - liberalismo aqui na América Latina. A Argentina, por exemplo, usou recursos do FMI e da venda de seus dinossauros estatais para aumentar o número de funcionários públicos nas províncias, um espantoso contra-senso. Qualquer um tem o direito de ser esquerdista, mas tem também o dever de não escamotear a verdade. A América Latina está embriagada pelo estatismo, mas continua bebendo dele, ao eleger Omala, Chávez, Morales e outros fantasmas saídos das próprias páginas que explicam a sua pobreza. Que Deus, em outubro, afaste do Brasil esse cálice!


Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.

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