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Crônicas
03/05/2006 - 20h46
Bahia de todos os gemidos
Paulo Lima
 

Salvador, de onde você não sai sem um orgasmo - na frase do colega da faculdade, lá pelos 80. Ou onde o prazer atravessa as paredes do hotel, em ondas de gritos e sussurros, na minha frase atualizada pra 2006.

Avenida Sete, bem do lado da Piedade. Hóspede do 304. “Viagem a negócios”, anotei na ficha. Congresso de jornalismo. Sozinho. A comadre só daria o ar da graça no dia seguinte. Compromissos a seguraram em casa. Uma noite sem a costela dela. Longa jornada noite adentro.

Na noite alta, descargas que despejam os resíduos do dia. Sapatos que caem ao chão com barulho, os últimos vestígios da farra. Tosses. E gemidos abafados, como numa sintonia imprecisa. Ajusto o meu dial. Tanto pode ser mulher transando, como levando sopapo. Num mesmo ato, as duas ações se comportam. É o freguês quem diz.

Pode ser um pornô, a trilha sonora típica, a luta corporal em seus lances iniciais, o inconfundível som sibilante, cicios descompassados, e o primeiro gemido mais amplificado, muito próximo.

Não, não é filme. Tem o ranger de cama, estrutura decrépita que geme junto e mal suporta a gravidade dos corpos.

Um repertório de suspeitas. A mulata pinçando dólares do trouxa turista? O casal casado vivendo o frenesi de uma noche caliente? História do Ó em terra dos Orixás? O último tango no terreiro de Oxum e assemelhados? O império dos sentidos com sabor de acarajé, dendê e vatapá? Garganta profunda no fundo da noite de São Salvador?

Do outro lado da parede e da noite, corpos ardentes fazem o carnaval, deus e o diabo unidos na mesma terra em transe. Teresa Batista em início de guerra. Mulher dos mil gemidos. Femme fatale? Vaca de divinas tetas? Messalina da praça da Piedade?

Gemidos em ritmo de axé, trombeteados, despudorados, desbocados, deslavados, destemperados, e que vão perdendo o fôlego, até ressurgirem na próxima onda de êxtase e fluídos libidinais. Coisa pra mais de hora. Saudáveis atletas de alcova.

E mais gemidos, chiados, grunhidos, em variados decibéis, tons, alturas e diapasões, estalar de mão na carne dura, na cavalgadura, o trio elétrico rasgando a Avenida Sete e explodindo em apoteose na Praça Castro Alves, a menina baiana com a ginga e o jeito que Deus dá.

Pausa. Voz, até então inexistente, do senhor comandando a sua mucama, o grito de protesto sugerindo variação no Kama Sutra. Quiçá a conquista do território proibido, a posse rendendo gritinhos, gritões, gemidos e batidas de rumba, bolero, salsa e chá-chá-chá. Coisa pra mais de hora. Afogueados atletas de alcova.

Sussurros, gemidos, gritos, gritinhos, gritões, até que os amantes, ora dirão, ouviram estrelas, o gol de placa do Bahia na tenda dos milagres, a pimenta incendiando o tabuleiro da baiana, a praça Castro Alves sendo invadida pelo povo, o céu pelo avião e o sol brilhando em esplendor sobre a baía de todos os santos.

Silêncio.


Nota do Editor: Paulo Lima  é jornalista freelancer, colaborador do Observatório da Imprensa e editor do jornal eletrônico Balaio de Notícias.

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