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Opinião
03/05/2006 - 19h08
O direito de resmungar
Olavo de Carvalho - Parlata
 

Ao mandar arquivar o pedido da CPI contra Lula, o presidente do Senado não fez senão confirmar em atos a constatação melancólica do senador Arthur Virgílio, de que "não há condições" para o impeachment do presidente da República.

Não há condições, na verdade, para fazer nada contra a elite petista dominante, porque ela personifica historicamente a autoridade moral do esquerdismo, que, legitimada pelas bênçãos de Fidel Castro e Hugo Chávez, domina de tal modo os corações e mentes deste país que mesmo os acusadores mais ferozes dos crimes do governo insistem em mantê-la intacta, imune e transcendente a toda suspeita humana. A construção dessa autoridade postiça pela bem dosada combinação do método gramsciano da "ocupação de espaços" com os consagrados procedimentos leninistas do boicote, difamação e discriminação profissional dos adversários, foi ela mesma uma parte integrante da longa e discreta montagem do império petista do crime.

Preservá-la, isolando os delitos singulares da imensa fraude cultural e psicológica que os preparou e possibilitou, é tão estúpido quanto tentar mandar para a cadeia uma gangue de traficantes sem tocar na honorabilidade do vínculo associativo que os une. O que essa retórica autocastradora consegue é minimizar ante a opinião pública o tamanho e a gravidade dos delitos, tratando como exceções isoladas o que é na realidade a manifestação parcial e localizada de um império geral do crime. Mas seria errado imaginar que aqueles que adotam esse discurso estejam se castrando no ato de pronunciá-lo. Eles já estavam castrados antes.

Castrados ideologicamente, em primeiro lugar. No Brasil, talvez mais que em qualquer outro país do mundo, o mal crônico da classe empresarial e dos defensores do capitalismo em geral é a mania pragmatista de ater-se aos argumentos técnicos e jurídicos para fugir ao confronto ideológico. Mais que ser destruídos pelos comunistas, temem ser rotulados de anticomunistas. Lênin dizia que o caminho mais curto para a vitória não é combater, mas tirar do adversário o desejo de fazê-lo. Abdicar voluntariamente da autodefinição ideológica é mais que perder o desejo de combater: é recusar-se até a pensar nisso.

Mas castrados estrategicamente, também. Há três ou quatro décadas os partidos ditos liberais ou conservadores entregaram a seus adversários esquerdistas o monopólio da militância organizada e das manifestações de rua, limitando sua esfera de ação à concorrência eleitoral e às manobras parlamentares. Agora, é claro, se queixam de "falta de respaldo popular", como se o respaldo popular devesse vir espontaneamente e não como resultado de um longo esforço de arregimentação e treinamento de militantes.

Ao voltar-se contra a máquina de corrupção petista, esperavam poder derrubá-la mediante o jogo parlamentar e as ações judiciais. Mas o Congresso e o Judiciário, mesmo sem contar o domínio que sobre eles exerce o esquema governista, nada podem sem a força da própria sociedade que representam. Essa sociedade, hoje, está organizada para atender ao apelo esquerdista e para permanecer indiferente a tudo o mais. Aos descontentes resta apenas o direito de resmungar.


Nota do Editor: Olavo de Carvalho é jornalista e filósofo nascido em Campinas, Estado de São Paulo, em 29 de abril de 1947. Tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros. Professor de filosofia e diretor do Seminário de Filosofia do Centro Universitário da Cidade (RJ). Autor das obras "O Jardim das Aflições" e "O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras". Editor do site Mídia Sem Máscara.

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