Sabe o leitor de quem se trata? De uma praga? Não, ao menos no sentido literal não se trata disto. De cupins? Certamente, eles dão em caras-de-pau, mas não consta que dêem na espécie de árvore em questão. Desmatamento? Ora, desmatamentos costumam ocorrer em florestas nativas tais como a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, e como sabemos, o eucalipto não é arvore originária de Pindorama, veio da Austrália para o Brasil, entre muitos outros países da Europa e das Américas. E além disso, eucaliptos costumam ser usados em reflorestamentos. E essa história que estragam a terra, porque extraem da mesma toda a água e sais minerais, não passa de lorota de fanático ecologista. Ursinhos koala, que desfolham todas as árvores ao se alimentar somente de folhas de eucalipto? Não, porque na Austrália esse simpático mamífero herbívoro quase foi extinto e, desde que virou um símbolo nacional - juntamente com o canguru - tem sido protegido pelo governo australiano. E embora o Brasil tenha importado eucaliptos da Austrália, nunca importou ursinhos koala, que vivem grudados neles que nem a preguiça em jatobás e aroeiras - um animal emblemático da Terra de Macunaíma. O leitor quer mesmo saber quem é o inimigo número um dos eucaliptos? Di-lo-ei, prezado leitor, di-lo-ei! O inimigo número um dos eucaliptos, este por quem as plantações de eucaliptos estão sempre ameaçadas de extinção, não é certamente o agroindustrial que opera no ramo de papel e celulose, pois ele não quer destruir a matéria prima de seus produtos industriais. Se ele constituísse uma ameaça para os eucaliptos, seria como aqueles sujeitos que dão tiro no próprio pé ou serram o galho da árvore onde estão sentados. Como não são desse tipo, para cada árvore que cortam, meia dúzia é plantada. A esta altura, o leitor terá todo o direito de dizer: "Chega de criar expectativas crescentes! Diga logo o nome do inimigo número um dos eucaliptos ou cale-se para sempre!" Já que é para a felicidade geral e o bem-estar da nação, diga ao povo que digo. O nome dele é João Pedro Stédile, uma das principais eminências do MSTSV (Movimento dos Sem-Terra e dos Sem-Vergonha) - uma eminência, repito, mas não a eminência parda. E quem é ela? Prometo que revelarei seu nome qualquer dia desses. Como já demonstrei em outro artigo, Stédile - homem de notável saber e QI elevadíssimo - passou a comandar todas as destruições de plantações de eucalipto, a partir de um raciocínio formalmente impecável, a saber: primeira premissa: Só se deve plantar aquilo que se come. segunda premissa: Não se come eucalipto, conclusão : Não se deve plantar eucalipto. Alicerçado nesta férrea lógica, Stédile sentiu-se legitimado para destruir as plantações daqueles que só plantam o que não devem plantar, como são os casos das Indústrias Klabin, da Aracruz Celulose, da Suzano Papel e Celulose etc. Est’última a mais recentemente punida por fazer o que não deve. Cerca de 3.000 integrantes do movimento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram, na madrugada de ontem, uma fazenda que pertence à Indústria Suzano Papel e Celulose, em Teixeira de Freitas, Bahia. (...) em 2002 a Suzano comprou a fazenda e começou a plantar eucaliptos (...) São 600 hectares de área plantada (Jornal do Commercio, 17/4/2006). Não quero apurrinhar o leitor com detalhes técnicos quase sem importância. Eu asseverei que o argumento justificador da ação comandada por Stédile era "formalmente impecável". Disse, digo e redigo! Resta apenas fazer uma pequeno esclarecimento para os não-iniciados: um argumento formalmente impecável pode ser materialmente verdadeiro ou materialmente falso (ou um ou outro, mas não ambos) de um ponto de vista substantivo. No caso do argumento de Stédile, ele é obviamente falso aos olhos de uma criança inteligente de uns 10 anos. Por que? Ora, porque a primeira premissa não se sustenta e a segunda é falsa. Logo: a conclusão é igualmente falsa. Supondo que na terra só se devesse plantar o que se comesse, não deveríamos plantar seringueiras, jacarandás e eucaliptos etc., porque as primeiras servem para fazer borracha, as segundas para fazer casas e móveis, finalmente as terceiras servem para fazer papel e celulose. Evidentemente, ninguém come borracha, madeira de lei, papel etc., mas estas coisas têm uma grande utilidade para a indústria e para nossa vida prática e, por isto mesmo, é ótimo ter empresas desejosas de cultivar tais árvores, e sua destruição é coisa de baderneiros irresponsáveis que deviam ser punidos pela lei. Disto se infere, finalmente, que João Pedro Stédile é possuidor de gravíssimo déficit de inteligência, coisa, aliás, regiamente compensada com foice, martelo e cara de mau (supondo, é claro, que ele acredite realmente naquilo que diz e faz, que não que jogue para a platéia como o ex-frei Boff, o frei Betto, o Arnaldo Jabour e outros). Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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