"A surpresa do governo Lula com a expropriação das empresas estrangeiras na Bolívia não é falta de informação, mas de discernimento". - Dora Kramer A lição mais ostensiva a tirar o grotesco gesto de Evo Morales é a incompetência e o irrealismo da nossa diplomacia sob o comando do PT. Mas obviedade é superfície, é preciso aprofundar a análise. Não se chega a esse colosso de fracasso diplomático sem um bruto esforço de auto-engano, sedimentado em uma ideologia burra e insensata por natureza. Isso é a esquerda no poder, toda ela ignorante da natureza humana e daí, das relações políticas internacionais e da diplomacia. Azar nosso que se soma ao besteirol teórico esquerdista a psicologia de um líder despreparado e burro, que acha que relações entre Estados soberanos é uma perfeita analogia entre relações de vizinhos de muro. Santa simplicidade do metalúrgico-presidente! Pode até haver solidariedade entre países em momentos cataclísmicos, essa invenção do Ocidente cristão, mas em tempos normais impera o egoísmo das razões de Estado. É assim desde que o mundo é mundo. E, quando os partidos coletivistas tiveram o poder na mão, foram à guerra mais homicida de que se tem notícia, entre si, a despeito dos pactos pomposos assinados. Quem não lembra do acordo de Hitler com Stalin? Ou do estremecimento entre a China e a URSS? Ou os muitos genocídios que se praticou em países ocupados por comunistas "solidários"? A solidariedade internacionalista dos comunistas nunca passou de um discurso vazio. Nem poderia ser diferente. Ninguém pode bancar a conta de ninguém, nem no nível pessoal. Riquezas só existem se houver trabalho diuturno, com tecnologia aplicada, com tirocínio, com empreendedores. Li hoje na imprensa um monte de declarações de próceres esquerdistas "reconhecendo" o direito da Bolívia expropriar propriedades estrangeiras, basicamente brasileiras em sua grande maioria. Ora, o que foi feito foi um ato de guerra, de força, um roubo ostensivo que subtraiu a propriedade de empresas nacionais, não apenas da Petrobrás estatal. As imagens das tropas bolivianas se apossando sem aviso prévio de propriedades brasileiras não oculta a agressão que o governo da Bolívia perpetrou. Gestos pacíficos prescindem de tropas. Foi um ato de guerra medido e calculado. Algumas pessoas escreveram-me levantando a hipótese de que tudo não passa de uma armação dos integrantes do Foro de São Paulo, comandada por Fidel Castro e Hugo Chávez. Penso que estão certos, de fato a inspiração, o apoio logístico e político vieram desses dois canastrões. Também é fato que Lula e o PT integração o malfadado Foro, mas ficou evidente que os interesses nacionais brasileiros ficaram subalternos a decisões alienígenas de paísecos irrelevantes, governados por populistas histriônicos. O pecado de Lula passa, além daquele mencionado por Dora Kramer, em epígrafe, a burrice pura e simples, a ser o de traição à Pátria e aos interesses nacionais brasileiros. Não se deve minimizar essa realidade assustadora. Lula achou que liderava o Foro de São Paulo; Fidel e Chávez demonstraram quem manda. Nesse jogo ridículo perdem os povos boliviano e brasileiro. Os bolivianos perderam investimentos, tecnologia e mercado. Evidente que o gás mais caro levará os usuários a retornar aos combustíveis tradicionais. Pior, a incerteza no fornecimento do produto impedirá o surgimento de novos consumidores, E o gás mais caro viabilizará fontes nacionais alternativas de suprimento energético. As simples imagem do que se passou na Bolívia já destruiu parte considerável do mercado futuro do produto boliviano. Ninguém, em são juízo, irá depender da boa vontade de um maluco populista como Evo Morales. A estatização, ao contrário do discurso demagógico, trouxe imediato empobrecimento à Bolívia. Fica provado, ainda uma voz, que a única coisa verdadeiramente internacionalista e pacífica são as políticas liberais, que prescrevem o livre fluxo de comércio e o respeito à propriedade privada, inclusive dos estrangeiros. As alternativas socialistas são, a um só tempo, violentas, demagógicas, confiscatórias e provocadoras de empobrecimento. Ao governo brasileiro caberia defender os interesses nacionais. Lula não o fez. Ao Congresso Nacional caberia uma cobrança de uma reação imediata do Executivo. Tampouco o fez. Sem chefes, as nossas Forças Armadas quedam embaraçadas, pois nada lhe deram para fazer, especialmente aquela finalidade que é a sua competência constitucional primeira, defender os brasileiros. É com indignação que vejo essa vilania toda acontecer. Os brasileiros em armas estão desamparados de comando. Sei que no meio deles só há patriotas, mas com um governo pusilânime, cego, estúpido e insensato a comandar ficam ociosos. Minha preocupação maior é de ordem estratégica. Se uma nulidade política e militar do tamanho da Bolívia pode agredir a Nação brasileira a bel prazer e nada sofre em conseqüência, é uma questão de tempo que potências maiores sintam-se tentadas a avançar sobre o Brasil e os brasileiros. Desde o século XIX a América do Sul temeu o Brasil, pois a espada de Caxias jamais deixou dúvidas quanto à nossa capacidade de defesa. Nas ações militares em nossa história sempre fomos implacáveis vencedores. A nossa tradição não merecia o funesto governo de covardões que hoje temos. Essa covardia pode custar muito caro às próximas gerações e desestabilizar a paz imposta pela força de nossos soldados. Medo é a fonte real do respeito nas relações internacionais. Consola-me saber que é uma questão de tempo para que possamos entoar, de novo, o refrão do Hino da Independência, tão formoso quanto honroso: Brava gente brasileira! Longe vá temor servil Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil. Os patriotas brasileiros estão em luto. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.
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