Anabel é o tipo de profissional que acha que só o melhor é bom para seus amados leitores. A diligente escriba não pára, vive andando pra cima e pra baixo procurando novidades e/ou novos ângulos sobre velhas e eternas questões. Foi numa dessas que fui a Brasília na semana passada - depois conto o que fui fazer. Na viagem de volta, sentou-se ao meu lado no avião uma moça, bonita e psicóloga, a Mariana. Ela ia para um congresso em Porto Alegre sobre distúrbios alimentares. Xereta como sou e o que é pior, gulosa, comecei a fazer perguntas, sempre me intrigou como alguém deixa de comer por vontade própria. A Mariana deu uma aula tão boa que resolvi dividi-la com meus escassos leitores. É de arrepiar os cabelos. Como todo mundo sabe, anorexia e bulimia são os principais distúrbios de alimentação conhecidos hoje em dia. O que não se sabe é que o nome anorexia é errado, quer dizer falta de fome, de apetite, e as pobres garotas que dela sofrem têm fome sim, só que simplesmente não comem. Digo garotas porque ela ataca principalmente mulheres, são 95% dos casos e cada vez mais jovens - a Mariana já tem uma paciente de 11 anos! - Essa mania do ideal de magreza, auxiliado por alguma frustração ou projeção da mãe, que quer ver na filha o que ela não é, pode ser nefasto - diz a psicóloga do avião. - Normalmente a garota pára de comer em meio a conflitos familiares, como separação dos pais. Aí os dois se reúnem para cuidar dela, de certa forma ela se torna novamente o centro das atenções em um momento em que a crise está deslocada em outros fatores. As adolescentes que embarcam na bulimia perdem as curvas nascentes, o corpo volta a ser de criança e como a falta de alimento gera vários problemas hormonais, a grande maioria fica coberta de pêlos, enquanto o cabelo da cabeça se torna ralo. Se vêem eternamente gordas, não só na imagem do espelho quanto no lugar que ocupam no mundo - por exemplo, acham que não vão caber na cadeira, não importa a largura do assento. Assim como fazem os jovens drogados, as meninas roubam dinheiro de casa para pagar academia e personal trainer, se matam de malhar na busca da magreza inexistente - a anorexia pode terminar em morte. E, sério agravante, é alimentada pela Internet. Existem vários sites, que normalmente usam a palavra Ana, de anoréxica, para ensinar como suportar a fome e ficar sem comer. Quem consegue truques novos coloca na rede e assim as informações vão se espalhando e se multiplicam. É na Internet também que se conseguem informações sobre a bulimia, que quer dizer fome de boi. Nessa, as garotas se empanturram e depois vomitam. Um dos espaços favoritos delas é o cinema. Elas entram com aquele sacão gigante de pipoca, comem vorazmente e vomitam tudo dentro dele, na última fila. Além de conseqüências gravíssimas como rompimento do esôfago por causa do excesso de vômitos e morte, a bulimia causa também palmas das mãos amareladas: - As meninas que têm bulimia se empanturram de mamão e cenoura, achando que são diuréticos, o que não é verdade - alerta Mariana. Cura para os distúrbios alimentares é complicada, passa por terapia e muito carinho da parte dos pais. Os estudos americanos mais recentes mostram que o velho truque do aviãozinho para fazer crianças comerem e muita paciência ainda são o melhor remédio. Anabel Serranegra acha que comer é uma delícia. Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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