É uma coisa impressionante! Após Zé Dirceu ter perdido seu mandato como deputado federal (PT-SP), continua agindo como se nada tivesse acontecido ou nada de grave houvesse ocorrido. Nos bastidores do Congresso - já em frenética campanha pró Lulla - ele continua articulando, confabulando e fazendo conchavos. E fora do Congresso, ele está deitando falação em toda parte. Que ele goste de soltar o verbo, isto é um problema dele; mas que determinados viventes o convidem para deitar falação, é um problema deles, quer dizer: nosso, de todos nós, brasileiros. Recentemente, Zé Dirceu foi convidado para fazer uma palestra na UFRJ. Só está faltando agora convidar o Fernandinho Beiramar pra dizer umas abobrinhas, obscenidades e sandices (e o contribuinte pagando todas essas despesas!). O sinistro teve lugar no seminário Mídia da Crise ou Crise da Mídia? Zé Dirceu foi intensamente ovacionado, embora os estudantes não tivessem lhe atirado ovos podres, mas sim aplaudido com inenarrável entusiasmo, com o mesmo fervor que eles aplaudiriam Hugo Chávez, Fidel Castro e aquele pigmeu da Coréia do Norte cujo nome não me lembro (e não lamento o esquecimento), entre outros destacados caudilhos latino-americanos e ditadores de republiquetas irrelevantes e obscuras do terceiro mundo. A certa altura de sua execrável e melancólica peroração, Zé Dirceu se lamuriava de dar dó... re, mi, formando um acorde fortemente dissonante. Primeiro me cassaram com "ss" e agora querem me caçar com "ç". Não querem me deixar trabalhar. Qualquer atividade minha é suspeita. Eu não posso dar consultoria, não posso advogar. Um jornalista diz que agora eu dei para gostar de vinhos, mulheres e jatinhos. Só porque eu aluguei um avião para atender um cliente, porque era a única maneira de eu poder ir a Juiz de Fora rever meu amigo Itamar Franco e atender a um cliente. Quem vai pagar isso será a minha empresa, que tem recursos para isso. (Jornal do Commercio, 27/4/2006). Sem dúvida, sua empresa tem capital suficiente para arcar com a referida despesa, assim como não paira nenhuma dúvida de que a caçada é o efeito da cassação, do mesmo modo que o caçado é efeito do cassado. Quando isto tem lugar por motivos políticos, é digno de lamentação um indivíduo não conseguir trabalhar em lugar nenhum; mas quando isto se dá por corrupção ativa, peculato, formação de quadrilha, et caetera - passa a ser uma outra história em que não porque lamentar o merecido descrédito. As pessoas não podem ser obrigadas, por uma Medida Provisória - destas que o Lulla adora baixar! - a conceder credibilidade ao Zé Dirceu, e não conceder a mesma é a razão pela qual ninguém quer contratar seus serviços, por mais eficientes que sejam. E é preciso deixar claro que não sou eu quem lhe atribui a prática dos delitos acima mencionados, porém o Congresso Nacional que aprovou o relatório feito pela comissão de ética e o Ministério Público Federal quem abriu um processo contra ele e mais 39 delinqüentes, o que dá 40 ao todo. Mas se engana quem pensa que Ali Babá (*) é o chefe do referido bando. Ao contrário, Ali Babá é aquele sujeito quem descobre a senha secreta - "Abre-te, Sésamo!" - para entrar na caverna fechada, onde os larápios escondiam um grande tesouro. Além disso, uma das esperadas conseqüências de uma cassação por esse segundo motivo é a total perda de credibilidade. Quem entregaria sua causa a um advogado indiciado criminalmente em ao menos três artigos? Quem teria a santa ingenuidade, confinando com a lamentável parvoíce, de pedir sua consultoria? A velhinha de Taubaté? Acho que nem mesmo ela... (o cacófato é intencional, professor Pasquale!). Pensando bem, o Zé Dirceu está na mesma situação que estivera Richard Nixon after the Watergate scandal. Após ter renunciado para evitar um impeachment, o referido ex-Presidente não conseguia nem ser síndico de seu edifício; pior ainda: seus vizinhos, fortemente indignados, o consideraram persona non grata e fizeram um abaixo-assinado para que ele se mudasse urgentemente. A indignação do povo tem razões que a própria razão desconhece... Luís XVI que o diga! (*) notinha oportuna: O título do conhecido conto árabe - que faz parte daquela antologia de contos tradicionais intitulada As Mil e Uma Noites - pode suscitar uma ambigüidade, coisa que seria facilmente evitada, caso o tradutor tivesse optado por um título unívoco, a saber: Ali Babá Contra Os Quarenta Ladrões. Assim fica bastante claro que Ali Babá é o herói e não o vilão da estória... E, como sabemos, in claris cessat interpretatio! Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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