A América Latina vê saltarem de empoeirados livros que relatam sua saga de atraso traças que já deveriam estar há tempos sepultadas. Que Evo - o Primevo - julgue, ao nacionalizar as instalações da Petrobrás, estar fazendo bem à sua pobre Bolívia - quando isto só vai afundá-la ainda mais -, é um direito seu, já que a estupidez não tem mesmo limites; que o fanfarrão Chávez - o Grande Pateta -, arvorando-se em líder subcontinental, dê ao cocalero apoio político e financeiro, também é passível de entendimento, pelo mesmo motivo; e que o sanguinário Fidel também o faça, é bastante natural, já que o ditador cubano personifica quase meio século de estupidez explícita. O que é inexplicável, sob quase todos os pontos de vista, é a reação covarde do governo brasileiro ao ato de agressão aos interesses do nosso país, com quebra unilateral de contratos, todos oriundos de tratados e com ameaça de chantagem para obter melhores preços para o seu gás, tudo sob um aparato spielbergiano de ocupação militar das instalações da nossa estatal - rebaixada da condição de "patrimônio dos cidadãos" brasileiros, tão decantada pelos nacionalistas daqui, para a de "usurpadora do povo boliviano". Só há uma explicação para a poltronaria de nosso governo ao endossar visão tão imbecil: é o Foro de São Paulo, do qual o PT foi signatário e cujo objetivo principal é criar na América Latina uma cópia da antiga União Soviética. O socialismo sempre foi internacionalista e apenas usa o nacionalismo ingênuo para chegar aos seus fins; não foi por outro motivo que Prestes disse um dia que, caso o Brasil travasse uma guerra com a URSS, ficaria do lado deles. A política externa desastrosa do governo do PT tem sido conduzida com esse objetivo, oculto para quem só consegue enxergar o dia a dia, mas assustadoramente claro para os que usam os binóculos da lógica. Os rupestres presidentes da Bolívia, de Cuba e da Venezuela decidem que a primeira pode e deve violar compromissos internacionais com o Brasil e o que faz nosso governo de esquerdopatas? Primeiro, responde que isso seria uma questão de "soberania" deles. Segundo, que não cabem represálias fortes de nossa parte porque o povo boliviano é pobre. E terceiro, afirma que os preços do gás no Brasil não serão afetados. Francamente, será que pensam que somos todos idiotas? Ora, mesmo se o caso fosse de soberania boliviana, ao rasgar contratos, ela também se romperia. Os bolivianos são pobres, mas os brasileiros também; ademais, Lula é o presidente do Brasil ou da Bolívia, ou quer servir a dois senhores? E dizer que os preços do gás e derivados não serão afetados no Brasil é agredir qualquer aluno de curso introdutório de Teoria dos Preços: é claro que vão subir, seja diretamente, nas bombas de gás, nos alimentadores das indústrias e nos aquecedores de nossos banheiros, ou indiretamente, caso a Petrobrás absorva o aumento mediante subsídio. Em ambos os casos, os custos serão arcados pelos consumidores ou contribuintes nacionais. Evo inspirou-se no modelo venezuelano. E o que faz Lula? Simplesmente, aceita negociar na reunião do "Tabajara FC", tendo, como mediador, Chávez! Quanta estupidez! Mas, se o Foro de São Paulo manda assim, trata-se de estupidez ideológica. O Itamaraty atual, movido pela ideologia esquerdista, acredita que o somatório das pobrezas deve ser mesmo igual à riqueza, daí não podermos esperar dessa instituição, que tanto serviu ao país com altivez e verdadeira soberania, que honre a sua tradição. Sempre defendi a quebra de todos os monopólios da Petrobrás e fui a favor de sua privatização, para o bem dos contribuintes. Mas, neste caso, trata-se de interesses do Brasil! Onde estão nossos barulhentos "nacionalistas", inclusive deputados e senadores do PT? Ao que parece, converteram-se em novos bolivianos... Hipócritas! Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.
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