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Crônicas
13/05/2006 - 07h53
Um artista da fome
Helena Sut - Agência Carta Maior
 

“As pessoas familiarizavam-se com a estranha idéia de que delas se esperava, nestes tempos, que se interessassem pelo artista da fome, e esta familiaridade era justamente o veredicto contra ele. Poderia jejuar à vontade e era o que fazia, mas nada agora o salvaria. O povo passava, indiferente.” (Franz Kafka)

O homem monta um espetáculo para alcançar a atenção da sociedade. Num local fechado, o artista fica sem comer. O público o observa atento querendo testar os limites do esquálido corpo, mas, há muito, os jejuadores não são atrações interessantes e nem a fome é interpretada como arte. De início, o jejuador consegue alguns holofotes, mas, em seguida, é esquecido e perde-se em meio à pálida palha.

A história não é atual, repete-se em vários formatos, mas o conto “Um artista da fome” é uma obra primorosa de Franz Kafka que, apesar de poder servir de introdução para a leitura de espetáculos contemporâneos, reforça a tese de que tais encenações podem desviar a atenção nos primeiros momentos, mas estão destinadas ao esquecimento, como o jejuador que foi abandonado numa jaula de circo ao lado dos animais e que, por acaso, foi encontrado ainda vivo para dizer apenas que jejuava pois nunca havia encontrado comida a seu gosto.

O artista da fome foi enterrado junto às palhas sem glória ou recordações. A jaula foi ocupada por uma jovem e selvagem pantera. A liberdade e a coragem do animal seduzia os espectadores que se amontoavam em volta da jaula sem vontade de se afastar. Símbolo do perigo e da astúcia, a pantera devorava tudo o que lhe era servido e, ali, bem tratada nem parecia sentir falta da liberdade. Pulava nas jaulas dando vida ao lúgubre espaço abandonado por tanto tempo.

O jejuador de Kafka dedicou-se à fome por inapetência e foi imortalizado na literatura num conto revelador. Outros “artistas”, nutridos de diversas ou obscuras motivações, tentam resgatar o tempo áureo dos jejuadores, mas estão fadados à indiferença e à jocosidade. Todos são personagens do grande espetáculo e escondem suas intenções nos bastidores. As faces verdadeiras camuflam-se na palha para atrair a solidariedade de uma sociedade já cansada de tais representações. Jejum e greve de fome não são mais ingredientes para uma história consistente.

Brincar com a fome, num país de miseráveis, é uma estranha peça de mau gosto que deve ser mantida à margem das reflexões verdadeiras.

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