Alguém pergunta, talvez a título de especulação filosófica: o que leva você a classificar, rotular ou definir lugares e pessoas? Que lugares e pessoas? retruco. Qualquer pessoa, em qualquer lugar. Pode ser em um bar, restaurante, hotel, casa, avião etc. Fiquei pensando. A pergunta era meio vaga e dava margem a pensar em qualquer coisa. E foi aí que pensei na última coisa que imaginaria. Disse: banheiro. A razão, qual a razão? E me vi em tantos banheiros espalhados pelo mundo, espaços diminutos que dizem muito de quem os construiu, mais ainda de quem os cuida e desnuda quem os usa. Imagine um restaurante à margem de uma estrada neste nosso Brasil. Estou falando dos lugares onde todos param e já chegam procurando saber onde fica o banheiro. Primeira porta à direita, pois os banheiros são socializados, mas tendem sempre para a destra, mesmo quando são sinistros em odores e formas. E há ainda os que estão fechados e a chave nos é entregue como se fora o condão para o paraíso com um olhar duro pedindo a rápida devolução, depois de avaliar o nosso caráter. E aí chegamos ao dito cujo. Chegamos, não é bem o termo. Ele chega até nós, em primeiro lugar, pelo evolar de gases e nos deparamos com a realidade sociológica que nos faz lembrar os que imaginam poder decifrar a alma das gentes, tal como proposto no início e já ando meio perdido aqui pelo meio. Pois bem, depois dos gases e odores, vem a realidade crua da descarga quebrada, da tampa cambaia, quando existe, e o desejo de sair rápido dali. Saiamos do restaurante de estrada e penetremos no “banheiro social” de um clube. A primeira indagação: por qual razão o tal social? A segunda, por que a maioria dos homens faz xixi e não lava as mãos? A terceira, por que os vasos sanitários e mictórios não seguem uma linha cubista a la Salvador Dali e não têm um desvio para a esquerda? Agora, estamos em um vôo longo, desses que varam a noite. Amanhece: o banheiro está sujo, papéis higiênicos ao chão e na pia, detritos. Terra à vista, solo. Vamos direto à casa de um emergente, desses que entregam seu habitat às vontades e ao gosto de quem o ambienta. E aí pensamos, como seria bom que todos tivessem noção que um banheiro ou lavabo deve ser apenas adequado e limpo, sem aqueles adereços que o fazem parecer uma lapinha. E então, porque cansamos de andar por aí, voltamos à nossa morada. Chegamos, tiramos a roupa e vamos, imaginem, ao banheiro. E aí, defronte ao espelho e na nudez sem castigo, somos, finalmente, o que realmente somos. E será que caberia a pergunta: quem somos, realmente?
|