Alguns dias atrás eu estava assistindo ao programa Anos Incríveis (série americana gravada no final dos anos 80 e princípio dos anos 90 e que é exibida, aqui em São Paulo, pela TV Cultura). Ela é ambientada nos anos 60 e 70 e conta histórias do dia-a-dia de uma família comum americana. Mas isso de uma forma diferente – pelo olhar atento de uma criança de 12 anos que cresce e amadurece presenciando as mudanças próprias, de sua família, dos Estados Unidos e do mundo. Sempre quando assisto esta série me emociono. Lembrar de nossa infância nos faz voltarmos a ser crianças. Isso seria bom se, infelizmente, já não fosse tarde demais. Quando eu era criança, inúmeras vezes, sonhei em ser adulto: diferente e melhor. Hoje sei que não voltarei a ser criança e me sinto muito pequeno, insignificante e triste. Agora é tarde. Na minha infância tomava sorvete de flocos com chocolate pensando no dia em que tragaria um cigarro, pois parecia mais bonito e charmoso me ver assim. Também andava de bicicleta e tinha uma vontade louca de andar de moto. O politicamente incorreto me fascinava. Agora é tarde. Quando se é pequeno as esperanças nunca morrem. A fonte de água nunca seca. As ondas nunca cessam. O sol brilha pra sempre e a vida é doce em todos os sentidos. Agora é tarde. Na minha imaturidade eu achava já saber tudo. Naquele tempo sabia sorrir para ganhar aliados. Chorar para ganhar ajuda. Mentir e parecer sincero. Também falava verdades mesmo que elas tirassem muita gente do sério. Hoje, na minha confusão de pensamentos, não sei mais de nada. Agora é tarde. Quando eu tinha 5 anos a piscina era rasa, por pequeno que eu fosse. A dor era pouca, por mais que eu chorasse. As estrelas, a lua, o mar e a floresta eram todos amigos. Os desenhos na TV eram o máximo. Agora é tarde. Não sinto mais vontade de dizer que crescer é bom, nem tenho coragem de dizer que crescer é ruim. Só lamento pelo mundo não ter me dado escolha – portanto cresci. Sei que o leitor mais impaciente pensará que preciso de um psicólogo – um acompanhamento profissional, mas quem me dera tudo se resolvesse depois de umas sessões de análise. Agora é tarde. Para não dizer que não falei das flores Assisto ao noticiário noturno e vejo o presidente Lula comentando a crise diplomática com a Bolívia. Hoje em dia o mais perto que consigo chegar da minha inocência infantil acontece quando estou dormindo. Olho no relógio e já são 23h05, então desligo a TV e vou dormir o sono dos inocentes. Espelho É triste, muito triste, olharmos no espelho e percebermos que é tarde – muito tarde!
Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
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