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Crônicas
18/05/2006 - 18h09
Filhos da mãe
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

Enquanto em milhares de casas pelo Brasil as criancinhas acordavam cedinho e, conforme tinha combinado com o pai, iam na ponta dos pés para a cama da mãe com um presente, um perfume chique, um colar ou uma folha com desenhinhos mal feitos (mas que a mãe mostra para todo mundo dizendo como o filho desenha bem), quase sempre um desenhinho de uma família na frente de uma casa colorida com um jardim de margaridas na frente (embora eles sempre tenha morado num apartamento).

Enquanto os filhos lá de longe ligavam de seus celulares para uma mãe emocionada que sempre diz para as amigas que o filho sempre liga para ela seja lá de onde estiver, e eles conversam muito e perguntam como vão um e o outro, e depois passam os telefones para os netinhos que não querem falar, mas os pais falam para eles falarem mesmo assim, fala que ama a vovó, fala! E o netinho fala que ama a vovó. Fala que está com saudades da vovó, fala! E a netinha fala que está com saudades da vovó.

Enquanto alguns netinhos mais modernos mandam e-mails para as mamães com cartões eletrônicos e depois têm que ensinar a mãe como é que faz para puxar o e-mail e ele senta do lado dela e ensina e ela puxa o e-mail e ela fica emocionada e quase chora quando aparece lá na tela do computador um coraçãozinho piscando e uma frase luminosa dizendo que ele ama ela e que ela é a coisa mais importante da vida dele (embora o filho passe quatorze horas do seu dia na frente do computador), e a outra mãe que já conhece um pouco mais de informática encontra um recado do filho no seu Orkut e ri e manda um e-mail para o filho dizendo obrigado eu também te amo.

Enquanto, mais tarde, os avós chegam para o almoço que os pais ajudaram a fazer, afinal era Dia das Mães e elas tinham o direito de descansar um pouquinho, e os pais preparam um churrasco que afinal churrasco é coisa de homem e os irmãos se juntaram e chamaram a mãe e passaram a tarde toda lá no fundo da casa comendo e bebendo e as mães cuidando das crianças e vendo os desenhos lindos que elas fizeram da mamãe junto com o papai e junto com elas na frente da casa com margaridas no jardim.

Enquanto tudo isso acontecia, milhares de criminosos se revoltaram contra os policiais e deixaram mais de cinqüenta mortos pelo caminho. Por sua vez, todos eles, criminosos, policiais e mortos, têm mães. Ou tiveram.

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