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Opinião
19/05/2006 - 10h03
A farsa de "O Código Da Vinci"
Felipe Aquino
 

O livro "O Código Da Vinci", de Dan Brown, é um best-seller escrito por um romancista que não é historiador, mas sim um norte-americano que foi professor de inglês da Philips Exeter Academy, em New Hampshire. A versão para o cinema deve ser vista por 800 milhões de pessoas a partir de 19 de maio. Com um milionário marketing, seu efeito será muito maior do que o livro.

O romance é uma ficção científica que pretende mostrar que "o cristianismo é uma falsidade e uma impostura", uma invenção da Igreja Católica mantida por guerras ao longo dos séculos.

A obra deseja questionar a veracidade histórica do cristianismo, a divindade de Jesus Cristo e a confiabilidade histórica da Bíblia. Além de pôr em dúvida a origem e o desenvolvimento da fé católica e as reais atividades dos apóstolos.

O que se pretende, na verdade, é se aproveitar do jogo de marketing e fazer sucesso com um público carente de formação religiosa. Mas, ao mesmo tempo, um público ávido por fantasia e suspense.

Brown, o autor, se aproveita de uma boa técnica para encher páginas com informações supostamente verdadeiras, mas sem base religiosa e cultural. Trata-se de uma ficção travestida de história, onde se afirma que Jesus teria sido casado com Maria Madalena e gerado uma filha com ela. Para fugir da perseguição dos apóstolos, ambas teriam fugido para a França. A descendência gerada por elas teria, no século V, se envolvido com integrantes da realeza francesa, dando origem à linhagem dos merovíngios - de onde surgiu o rei Godofredo de Bulhões.

Descendente de Jesus e Madalena, esse rei teria fundado a sociedade secreta Irmandade do Priorado de Sião, com objetivo de proteger a "verdade" sobre Madalena e sua descendência. Essa entidade transmite seus segredos em códigos ocultos. Daí aparece a figura de Leonardo Da Vinci (1452-1519), que, assim como o físico Isaac Newton e outros, teria sido membro do Priorado de Sião e inserido sinais e símbolos secretos da entidade em suas obras.

No quadro da "Santa Ceia", por exemplo, pintado durante três anos em uma parede do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, com nove metros de comprimento e quatro de altura, insinua-se que a figura junto a Cristo não seria a de São João, mas a de Madalena. Peritos em arte afirmam que Da Vinci quis retratar o momento no qual Cristo anuncia a presença de um traidor entre os discípulos. A presença de Madalena ao lado de Jesus na Ceia seria um sinal secreto de que Jesus confiara a Igreja a ela, não a Pedro.

Pelo livro de Brown, Jesus confiou a chefia da Igreja a Madalena, o que teria sido silenciado pela Igreja e pelos apóstolos ao longo dos séculos, através de crimes e guerras. Fato que não tem fundamento histórico algum. Não há fontes históricas fidedignas que reconheçam isto. A interpretação não aparece em dois mil anos de estudos bíblicos.

O autor prefere confiar mais no enredo do filme "A última tentação de Cristo" do que nos sérios relatos históricos de vinte séculos de estudos. Nem inimigos históricos da Igreja, como os racionalistas dos séculos XVII e XIX - como Renan, Harnack, Rousseau, Voltaire, Streeter etc. - conseguiram encontrar erros nos quatro evangelhos canônicos. Nem mesmo os evangelhos gnósticos, usados pelo autor, afirmam que Jesus era casado com Madalena e muito menos que teria deixado a chefia da Igreja com ela.

A Igreja Católica é mostrada na obra como uma grande mentira histórica, invenção do imperador Constantino (séc. IV), que teria feito do cristianismo uma religião com o objetivo de unificar o império, transformando Jesus em Deus no Concílio de Nicéia, em 325.

O imperador Constantino teria fundido os ensinamentos cristãos com as tradições pagãs para que fossem mais facilmente aceitos pelo povo. Para isto, teria mandado destruir todos os relatos evangélicos, reescrevendo-os em seguida a fim de demonstrar a divindade de Cristo. Cerca de oitenta evangelhos teriam sido queimados - o que não é confirmado por nenhum registro histórico. Dessa forma, a figura da "mulher de Jesus" teria sido suprimida dos quatro evangelhos canônicos e apresentada uma nova imagem de Madalena como prostituta.

Dan Brown alega que a Igreja Católica teria recusado o aspecto feminino e sexual da religião cristã. O que há, porém, é uma nítida tentativa de o autor jogar a mulher e o feminismo contra a Igreja.

Nessa ficção, Brown descreve a Igreja Católica - representada pelo Vaticano e pela Opus Dei (Obra de Deus) - como capaz de todo tipo de crimes, chegando a assassinar cinco milhões de mulheres (bruxas) e hereges, o que é um absurdo. Nenhuma fonte histórica confiável fala em milhões de mortos pela Inquisição.

A Opus Dei é apresentada no livro como uma sociedade secreta a serviço da Igreja, que confronta o Priorado de Sião na busca do Santo Graal (sangue real). O santuário seria o túmulo de Maria Madalena, onde estariam outros documentos preciosos escritos por Jesus e deixados para ela, escondidos sob as ruínas do templo de Herodes.

Quem tivesse posse desses documentos seria poderoso. Os Cruzados teriam tentado encontrá-los, mas não conseguiram porque foram impedidos por um grupo de "nobres cavaleiros da verdade" chamados de Cavaleiros Templários, que estavam a serviço do Priorado de Sião.

No livro, os Templários teriam encontrado o Santo Graal e negociado exigências com o Vaticano. Sabe-se, todavia, que naquela época a Igreja não tinha a sua sede no Vaticano e sim no Palácio de Latrão, doado pelo imperador Constantino. A residência do Papa no Vaticano só foi construída no século XIV.

Como se vê, a obra de Brown é repleta de erros históricos. Ele diz que os descendentes de Maria Madalena na França teriam sido protegidos contra a Igreja pela Irmandade secreta chamada Priorado de Sião, desde o século IV. No entanto, a primeira instituição secreta com este nome só surgiu no ano de 1100. Tratava-se de uma Ordem monástica católica - Mosteiro de Nossa Senhora de Sião - em Jerusalém, que deixou de existir em 1617.

O autor parece insinuar que é necessário a Igreja Católica reconhecer a sua impostura e os seus crimes, voltar a adorar a divindade feminina e, assim, mudar sua doutrina moral sobre a sexualidade. Aceitar, inclusive, o sacerdócio de mulheres.

Há muita invenção, maldade e perversão na obra. Leitores mais despreparados podem ficar com a idéia de que a Igreja Católica, e em particular o Vaticano e a Opus Dei, é uma Instituição não digna de confiança. Dan Brown quer desprestigiar a Igreja.

Se, por um lado, o livro e o filme de Brown atacam pesadamente a Igreja e o Cristianismo, por outro abre as portas para uma evangelização junto àqueles que gostarão de saber a verdade. Por isso é necessário que os católicos estejam devidamente preparados para apresentar explicações históricas e religiosas. Deus, como sempre faz, saberá tirar desse mal algum bem para a Igreja Católica.


Nota do Editor: Prof. Felipe Aquino é professor universitário de Física e Matemática, com Doutorado em Física pela UNESP. Tem 41 livros publicados pelas Editoras Cléofas, Loyola e Raboni. Apresentador na TV Canção Nova dos programas Escola da Fé e Trocando idéias.

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