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Crônicas
20/05/2006 - 12h35
O poeta do povo
Pedro J. Bondaczuk
 

Pouca gente no Brasil não conhece algum verso de Vinícius de Moraes, das inúmeras composições que ele fez com vários parceiros, como Antonio Carlos Jobim, Toquinho ou Baden Powell. Durante pelo menos três décadas, o "Poetinha", como era carinhosamente chamado, espalhou ternura e magia, sonho e fantasia, ironia e verdade, como sempre fazem os poetas. Especialmente a geração que embalou o seu namoro ao som da Bossa Nova, na década de 60, ou a da chamada "fase do fechamento" do regime militar, na dos 70, cantou, declamou, citou, viveu e curtiu Vinícius.

Pouca gente, entretanto, conhece esse incorrigível e sublime boêmio como escritor, autor de deliciosos poemas, como os publicados em seu livro "Para Viver um Grande Amor", além de textos políticos, com a agudeza de um "expert" na matéria. A maior parte da sua produção foi destinada a letras de canções que viveram anos na boca do povo, nos ouvidos atentos de todo um País, na memória de uma geração que até hoje não se conforma com a sua morte. O que fazer? O homem não consegue fugir da efemeridade!

O cidadão da "República Carioca de Ipanema" amava extremadamente o Brasil. Não com aquele sentimento piegas e verborrágico de escritores "nacionalistóides", ao estilo do Conde Afonso Celso, há muito ultrapassados, se é que chegaram algum dia a ter vez. E nem expressava esse sentimento contido através de tolos rasgos de ufanismo, na maior parte das vezes falsos e até de mau gosto. Mas à maneira bem carioca, bem boêmia, bem descontraída e marota, como todos nós, era crítico, quando precisava ser; irônico, via de regra, mas sem maldade e sobretudo bem-humorado. O bom-humor é fundamental na boa literatura.

Embora diplomata, de educação refinada, (despojado de seu cargo pela ditadura militar), Vinícius era, acima de tudo, "povo", na mais pura acepção desse termo, no sentido de ser autêntico, sincero, característico, o protótipo do verdadeiro brasileiro. Era o modelo mais perfeito e bem acabado, sem estereótipos, do carioca. Restringindo mais ainda: do morador da Zona Sul, de Ipanema, sim senhor! Era Rio de Janeiro, com seus contrastes e contradições. Era um pouco, também, Zona Norte, dos pobres e problemáticos subúrbios onde, entretanto, o samba nasce em cada esquina, em cada casa que não esconde a mesmice da pobreza, em cada botequim, em cada história, descolorida e comum, dos seus moradores. Mas era, antes de tudo, Zona Sul, de Ipanema até o Leblon: boêmio, irreverente e "bon vivant", com sua cultura "underground" e seu modo típico de ser. Acima de tudo, Vinícius era paixão, era alegria, era beleza, era poeta... Desses que vêem o lado belo das coisas onde elas aparentavam ser somente feias e chãs. Fazia brotar, como um mágico, lírios das infectas e nauseabundas sarjetas, extraindo diamantes de montanhas de lixo.

Vinícius era, e é nas obras que nos legou (menos do que seria desejável) um ser precioso demais, em meio às angústias, neuroses e incertezas dos nossos tempos. Não podemos prescindir de suas inspiradas visões de uma realidade da qual, como mortais comuns, sem a magia dos poetas, teimamos em ver apenas o lado avesso. Existem versos mais simples, e por isso mais belos, do que os deste "Soneto da Fidelidade", que o "Poetinha" compôs, em outubro de 1939, em Estoril, Portugal? Sintam a ternura deste "pastor de emoções", na espontaneidade das suas palavras:

"De tudo ao meu amor serei atento / antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto / que mesmo em face do maior encanto / dele se encante mais meu pensamento. // Quero vivê-lo em cada vão momento / e em seu louvor hei de espalhar meu canto / e rir meu riso e derramar meu pranto / ao seu pesar ou seu contentamento. // E assim, quando mais tarde me procure / quem sabe a morte, angústia de quem vive / quem sabe a solidão, fim de quem ama / eu possa me dizer do amor (que tive): / que não seja imortal, posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure".

Lindo, não é mesmo?!! É poesia pura!!


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte . Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos).

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