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Crônicas
23/05/2006 - 12h05
Mudando os conceitos
Diego Sierra
 

O jovem Severino Almeida não gosta de Carnaval. Aos 18 anos, o “barato” dele é rock n´roll, de preferência black metal. Pra quem não sabe, black metal é uma das vertentes mais pesadas do rock, com vocais guturais e letras que remetem à mensagens anti-Cristo. O rapaz só usa preto, freqüenta a Galeria do Rock – ele é paulistano – acha igreja um “negocio muito chato, que manipula a gente” e nem pensa em falar de amor, afinal, ele é “durão e implacável”.

Mas voltemos ao Carnaval. Nosso amigo “Thor”, como é conhecido pelos mais íntimos, definitivamente não gosta desse tal de Carnaval. “Samba é coisa de gente brega, e esses desfiles idiotas só servem pra Globo tirar uma grana, mano”, comenta.

Ele não costuma ficar em São Paulo no Carnaval, mais exatamente no bairro do Tatuapé, onde mora com os pais e uma irmã “meio patricinha”. “Ah, meu, ela fica ouvindo essas bandinhas de pseudo-rock que mancham a imagem do pessoal do underground que fica penando pra conseguir uma merda dum contrato ou um show em qualquer buraco por aí”, revolta-se.

Nesse último feriadão, nosso personagem, que está no terceiro colegial, viajou ao interior com alguns amigos roqueiros como ele. De “busão”, que é bem mais barato, eles foram parar lá em Guaratinguetá, onde aconteceria a “Folia do Metal”, um festival de bandas de black metal.

Contando o “busão”, a casa alugada e os gastos de comida e cerveja – claro - , não gastaram mais do que R$ 200 cada um. Chegaram lá na sexta-feira, passaram a noite no boteco “sentido o clima do lugar” e aproveitaram o sábado dormindo até às 14h e jogando futebol com alguns habitantes locais, que de início se mostraram incomodados com a presença dos forasteiros, mas logo perderam a braveza.

Os jovens se prepararam a rigor para o primeiro dia do grande festival. Colocaram suas roupas pretas, coturnos e socos ingleses na mão e partiram para a balada. “Mas a gente é super da paz, é tudo estilo, nunca arrumamos briga com ninguém”, ressalta. Chegando na porta do clube que abrigaria a apresentação, uma surpresa: o local havia sido interditado pelo Contru e não haveria show nenhum. “Que bosta!”, exclamaram em uníssono.

Naquele momento, resolveram afogar as mágoas. “Nada melhor que um bom e velho boteco, não é?”. Pinga com limão pra cá, conhaque com cacau pra lá, jurupinga, xiboquinha e todas aquelas bebidas baratas e bem alcoólicas, com muito gelo, claro.

E subitamente, não se sabe como, os seis amigos já estavam na pracinha principal da cidade, onde um trio elétrico animava a galera com os maiores sucessos do funk e da axé music. Eram letras bem profundas como “Piriri, piriri, piriri, alguém ligou pra mim... sou eu bola de fogo, e o calor ta de matar” e reflexões sobre o dia-a-dia maçante de todos nós como “quer andar de carro velho amor, que venha, pois eu sei que andar a pé, amor, é lenha”.

Com o nível de testosterona afetado pelas belas garotinhas que rebolavam por ali, e uma pequena colaboração do grau alcoólico em que se encontravam, os rapazes passaram a refletir sobre uma letra que dizia “se ela dança, eu danço” repetidamente. “E elas dançavam mesmo.... e a gente acabou dançando junto”. Pois é... nosso amigo rock n´roll subverteu todas as regras de conduta do black metal e se rendeu aos ritmos popularescos.

Como assim, Severino? “Ah, cara, é esse neoliberalismo capitalista que acaba com a gente. O lobby das empresas de bebidas e toda essa propaganda faz a gente beber... aí chega ali na pracinha e o ‘satan’ nos vem com essa tentação... todas aquelas meninas, aquele ritmo contagiante, aquela cultura de massa que chama a gente pra participar... não teve jeito”.

E eis que os amigos levaram as meninas para casa. Elas viram um daqueles cds de black metal em cima da mesa, com aquelas capas cheias de sangue, e acharam meio estranho. Severino foi o primeiro a negar tudo: “alugamos essa casa e tava aí, acredita? Mas o nosso negócio mesmo é black music... tem rádio Jovem Pan por aqui??”

E precisava tomar ice*, Severino?? E dançar só de cueca com a mão na cabeça? “Olha, colega, o ice até que é docinho... e as meninas queriam tomar, como a gente ia dizer não pra elas? Sem camisa? Eu? Pois é, não é à toa que levanto peso em casa e faço barra na praça perto de casa todos os dias. Precisava impressionar as gatinhas. Não vai achar que sou um vendido, ok? Muito menos um paga-pau, promete?”

A gente promete Severino, não vai te julgar por isso. Mas vocês estavam bêbados e fiquei sabendo que andaram... “Não, não conta, por favor. Eu juro que fui na igreja na quarta-feira de Cinzas, já pedi desculpa pro padre e não vou mais renegar os meus valores de black metal”. Bom, então tá!

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