O poderoso Rei de Siracusa, a mais rica cidade da Sicilia, Dionísio (432-367 a.C), vivia num luxuoso palácio rodeado por guardas e empregados prontos à atender a todas as suas ordens e satisfazer todos os seus desejos. Ele comandava o império com poderes absolutos. Sua palavra era lei – uma ordem a ser cumprida sem questionamento. Acontece que, um de seus melhores amigos, Dâmocles, vivia afirmando que ele, como tinha o destino do povo em suas mãos, era o homem mais feliz da terra. Cansado de tanto ouvir a mesma conversa, desafiou o seu súdito à vivenciar, por um único dia, todas as regalias de um reinado invejável. Aceita a proposta, Dâmocles, colocou as vestes reais, recebeu o cetro e a coroa de ouro e foi apresentado à todos como o novo monarca. Para consolidar a sua autoridade o novo rei ordenou a preparação de um grande banquete, com a presença dos mais ilustres convidados. Assim foi feito. Durante a belíssima festa Dâmocles foi saborear o vinho da mais antiga safra existente na adega, levou o copo aos lábios, inclinou a cabeça para trás e, como se tivesse visto um fantasma, empalideceu. Ele viu uma brilhante e pontiaguda espada direcionada para a sua testa, segura apenas por um fio de crina de cavalo. Ninguém poderia vê-la, somente quem estivesse sentado no trono real. Enquanto ele tremia de medo, o verdadeiro rei gargalhava a sua frente. Como sobre um mesmo fato as pessoas podem ter percepções completamente diferentes entendemos que, em vários aspectos, a humanidade caminha sob a “espada de Dâmocles”. Apesar das descobertas científicas e das inovações tecnológicas das últimas décadas, a sociedade continua a negar qualidade de vida à maior parte da população mundial. Causa? Ineficiência de políticas públicas que assegurem educação e saúde de excelente qualidade à população. Responsáveis? Parte da classe política que usa o cargo apenas em benefício próprio. Efeitos? A perversa desigualdade de distribuição de renda, geradora da pobreza que, segundo Mahatma Gandhi (1869-1948), é a mais cruel das violências. A discriminação, o preconceito e o desrespeito aos mais elementares princípios de cidadania, são ainda uma vergonhosa evidência no nosso cotidiano. A avanço da informalidade no mundo dos negócios, fonte do maior império do planeta – o Quarto Setor – algo em torno de 13 trilhões de dólares. A crescente violência mundial. A falta de isonomia salarial entre homens e mulheres, quando na mesma função. Agressão ambiental. O desencanto de cerca de 500 milhões de desempregados no mundo. A corrupção e o tráfico de drogas. Acentuado descompasso entre o desenvolvimento econômico e a geração de condições mínimas e dignas à população. A nossa postura democrática nas reações, mas autocrática nas ações. A insistência de conquistar a paz fazendo guerras. O equívoco cometido pelo homem ao distanciar-se de Deus. Há soluções para esses problemas? Sim. Elas dependem de ações compartilhadas entre os poderes constituídos, a classe empresarial, ONGs e a responsabilidade de cada um de nós. Estruturação familiar e relacionamento interpessoal respeitoso. Planejamento educacional que ofereça oportunidades (iguais) para que o ser humano possa relevar e desenvolver competências técnicas e habilidades ecléticas. Conduta ética de cada um de nós. Preservar a capacidade de nos indignar, e agir, diante das injustiças sociais. No campo da espiritualidade a solução está na vivência dos dois mandamentos mais importantes contidos nos Livros Sagrados – amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Quanto ao mundo dos negócios a tendência é que, no futuro, existam apenas dois tipos de organizações, independentemente de porte e segmento, “aquelas que se apaixonaram em se reinventarem, e aquelas que estarão agonizando agarradas as suas ultrapassadas certezas”. Nota do Editor: Faustino Vicente é consultor de empresas e de órgãos públicos.
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