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Crônicas
30/05/2006 - 12h06
O elogio da roupa velha
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

A capa da revista Vanity Fair, de maio, fala de "uma nova revolução americana". Ali está a foto de um político, Al Gore (aquele que perdeu a presidência para Bush) e duas figuras famosas de Hollywood, George Clooney e Julia Roberts. O que levanta a questão: que tipo de revolução é esta, envolvendo políticos e personalidades da tela?

Não chega propriamente a ser novidade: trata-se do movimento ecológico. Que, no entanto, agora ganha novas características. Em primeiro lugar, é mais militante. A recusa dos Estados Unidos em assinar o protocolo de Kyoto, associada aos crescentes problemas ambientais, exige uma ação mais direta, às vezes com contornos surpreendentes. Na semana passada, o prefeito de Londres propôs que, para economizar água, os habitantes da cidade não dessem a descarga depois de fazer xixi, só depois de fazer cocô. Ele não deixa de ter razão - urina no vaso é mais problema estético que de saúde - mas a notícia, como se pode imaginar, deu manchetes nos jornais do mundo. Talvez até justificasse uma capa do Vanity Fair.

Mas os novos combatentes ecológicos não se restringem a políticas governamentais. Para eles, ecologia é estilo de vida. Em função do que adotam uma série de hábitos, de acordo com a Folha de São Paulo: usam transporte público, andam de bicicleta, recusam sacos plásticos em supermercados. Ah, sim, e só compram em brechós.

O que é, convenhamos, um anúncio preocupante, sobretudo para os grandes costureiros. O que será deles se Julia Roberts vestir exclusivamente roupas usadas? Ou George Clooney?

No entanto, a idéia não deixa de ter certo apelo, e não só pela contestação. É que representa uma valorização daquilo que é o patinho feio dos closets e roupeiros, a roupa usada. Coisa que muitas vezes vemos apenas como trastes, ocupando lugar. Mas será que é assim? Afinal, a indumentária é parte de nossa vida. Há roupas que duram, e que podem, portanto, nos acompanhar ao longo do tempo, servindo inclusive como lembrança do passado. Do armário, o casaco nos olha e diz: "Lembra aquela vez que você estava no cinema, sozinho, e uma moça sentou perto de você, e comentou o seu belo casaco..." Ou então, o blusão de couro que suspira: "Lembra quando você queria mudar o mundo?".

O mesmo acontece no brechó. Lá herdamos os sonhos de outros. É a mesma coisa que comprar livros usados na Livraria Mosaico: a gente abre um volume, e ali estão anotações, comentários, perguntas, a nos unir a um leitor que não conhecemos mas que bem pode ser uma alma irmã.

A moda tem como objetivo nos arrancar ao passado, sempre visto como coisa dispensável, retrógrada mesmo. Neste sentido, é implacável; estar fora da moda é uma acusação que socialite não suporta. Não por outra razão fala-se na tirania da moda. A pergunta é: temos de nos submeter a isso? Talvez não. Talvez tenhamos de participar na luta que levará à Batalha Final, aquela na qual se oporão os freqüentadores dos brechós e os clientes das lojas elegantes. Enquanto isto, porém, podemos (e devemos) abrir os nossos closets e roupeiros e lançar um olhar nostálgico, ao menos um olhar nostálgico, ao casaco que, imóvel, parece disposto a nos abraçar com suas puídas mangas.

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