Faz 150 anos que Sigmund Freud nasceu. Foi dele, médico de formação, a idéia de fazer do autoconhecimento, com a ajuda de um orientador, instrutor ou terapeuta, não necessariamente um médico, o caminho para o homem entender o seu viver. E o fez de forma tão lúcida e objetiva que criou a psicanálise, uma mistura de conhecimentos filosóficos e científicos que tenta desvendar os porões humanos e explicar porque somos tão complexos. De Carlos Augusto Viana, professor de literatura, e um escutador compulsório de psicanalistas, ouvi que Freud foi um dos maiores empregadores da história, pois milhares são as pessoas que, a partir de seus ensinamentos, têm a psicanálise como profissão. Por ser leigo e viver nas bordas do saber psicanalítico é que me dou o direito de divagar sobre tema tão complexo quanto apaixonante. E faço-o sem profundidade, tão raso quanto uma bacia. Muitos acreditam que o dito hermetismo na linguagem psicanalista pode ser interpretado, pelo menos entendido, como pedantismo ou forma de, através de jargões, criar um mundo especial só para os iniciados. Paralelo a isso ou como contraponto, tem surgido na literatura uma forma de tornar mais leve o aprendizado ou o caminho utilizado para, se é que possível, cuidar dos males que ensombram a alma humana. Não estou falando de livros de auto-ajuda, mas de romances. Fiquemos em apenas um autor contemporâneo, certamente repudiado pela comunidade acadêmica da área: Irvin D. Yalom, psiquiatra, professor emérito da californiana Stanford University, que descobriu o filão de romancear a história da psicanálise. E o faz de forma didática, repetitiva, utilizando filósofos como Nietzsche e Schopenhauer como ganchos de seus personagens. Seus livros "Quando Nietzsche chorou" e "A cura de Schopenhauer" têm alcançado sucesso e despertado o interesse de leigos sobre o assunto. Querendo ou não, procura desmistificar as técnicas da psicanálise, embora ele seja apenas terapeuta. Mesmo sendo acusado de superficial, Yalom é garoto propaganda da arte de curar a alma, missão quiçá impossível, pois "viver é sofrer", como dizia o pessimista Schopenhauer que, paradoxalmente, só teve sucesso quando resolveu escrever de forma mais leve um livro de nome complicado (Parerga e Paraliponema) que trata da auto-estima, essa coisa tão intricada que é confundida com vaidade.
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