O Photoshop é um software para manipulação de imagens em computador que se converteu em verdadeiro achado para fotógrafos e suas modelos. Com o Photoshop desaparecem das imagens femininas todas as imperfeições. Batida a foto, a pele vira cútis e qualquer mocréia se converte em deusa, falsificada como uma cédula de cento e vinte dólares. As últimas pesquisas eleitorais evidenciam que o governo Lula está submetido a um efeito publicitário desse tipo. Não se trata mais da velha e conhecida maquilagem. Não. Isso já era. Pintar cabelos, branquear dentes, pozinho aqui, pinceladinhas ali, são coisas do passado. Agora é tratamento completo, reconstrução geral, trabalho de laboratório feito à custa do nosso dinheiro, num esforço sem similar. Não cura o paciente, mas o deixa com jeito de quem vende saúde. Desse modo, ele chega às telas imaculado, puro como uma virgem de Vesta. Ei-lo, então, transformado em usina de realizações. Refundador da pátria. Fez por nossa independência mais do que D. Pedro. Por nossas relações externas mais do que Rio Branco (embora, como ouvi do economista professor Ubiratan Iorio: "quem já teve em Rui Barbosa a Águia de Haia agora conta com o Pintassilgo de Garanhuns"). O SUS está a um passo da perfeição. Lula é maior do que Vargas. JK é miniatura. O Brasil, saibam os leitores, está confiado a um genuíno estadista, misto de Winston Churchill e Madre Tereza de Calcutá. Meticuloso e prevenido como ele; caridoso como ela. E dê-lhe Photoshop! No entanto, dado que sou teimoso, creio que o país seria outro se o que está sendo gasto em publicidade fosse aplicado em casas populares, saneamento, educação, saúde e segurança. Seria outro se o governo dispensasse aos nossos quebrados (e quase alquebrados) produtores rurais a mesma diligência e boa vontade com que atende e protege sua tropa de choque, ou se dedicasse a quem produz zelo semelhante àquele com que blinda sua insolvência moral. Seria outro se tivéssemos um governante menos surpreso perante tudo que, contra a nação brasileira, fazem seus fraternos e históricos parceiros internos e externos. Vivemos uma política singular, por absoluta perda da pluralidade. Presenciamos a campanha de um único candidato. Lula surfa solitário sobre a maré de lama de seu governo, impulsionado pelos recursos do Erário. E tudo indica que os eleitores o esperam na praia, vendo-o como sua imagem está sendo retocada para ser vista: sedutora centerfold da nudez moral do país. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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