Estudo do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto revela que as taxas de internação em crianças saudáveis por doenças respiratórias são 4 vezes maior de março a julho do que no resto do ano. Presidente da filial do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, disse que "pouquíssimas crianças até 2 anos estão sendo vacinadas", embora sejam tão suscetíveis às complicações da gripe como os idosos.

Com a queda da temperatura, os hospitais e pronto-socorros vêm registrando aumento de atendimento de casos de doenças respiratórias. Só no pronto-socorro do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, 70% dos 5.200 casos atendidos em março foram provocados por doenças respiratórias, a maioria por microorganismos como o vírus sincicial e o parainfluenza. Até agosto, essas doenças provocarão um aumento de 40% no número de casos neste pronto-socorro. "O vírus influenza, causador da gripe, ainda não está circulando mas deve entrar em atividade em breve. Por isso é importante que as pessoas se vacinem contra a gripe antes da chegada do vírus", alerta Nancy Bellei, infectologista e pesquisadora de Doenças Respiratórias do Hospital São Paulo da Unifesp.

O infectologista pediatra do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Otávio Cintra, alerta que a gripe afeta pessoas em todas as faixas etárias. "A exemplo dos idosos, as crianças menores de dois anos têm risco de desenvolver pneumonia e ser internadas, por causa da infecção do vírus influenza", afirma o especialista.

Em novembro de 2005, Otávio Cintra apresentou no 43º Encontro Anual da Sociedade Latino-Americana de Investigação Pediátrica estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, que analisou dez anos de internações por doenças respiratórias em crianças saudáveis, principalmente pneumonia e bronquiolite, na região de Ribeirão Preto, onde vivem cerca de 1,5 milhão de habitantes. De acordo com o estudo, as taxas de internação foram quatro vezes maior de março a julho, quando há grande circulação dos vírus Influenza e sincicial, do que no resto do ano. O número de internações de crianças com menos de cinco anos subiu de 100 para 800 por mês neste período, especialmente por pneumonia e bronquiolite. Nos menores de dois anos, este número saltou de 80 para 500 por mês.

Em 2004, durante surto de vírus influenza, 17% das crianças menores de um ano internadas por bronquiolite ou pneumonia apresentavam infecção por este vírus. O tempo médio de internação foi de sete dias. A infecção por influenza pode facilitar infecção secundária por pneumococo - bactéria causadora de otite, sinusite e pneumonia. Neste mesmo surto, houve aumento de crianças internadas por pneumonia pneumocócica.

Por recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, os pais devem vacinar contra a gripe as crianças entre seis meses a dois anos, porque elas apresentam taxas de infecção e internação semelhante aos maiores de 60 anos. A vacinação nesta faixa etária já era recomendada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) e pelo ACIP - Comitê Consultivo de Práticas de Imunização do governo norte-americano. "As complicações da gripe nesta faixa etária também são semelhantes às de crianças maiores com doenças cardíacas e pulmonares", observa Gabriel Oselka, médico do Instituto da Criança.

Recomendação ignorada

Apesar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, "pouquíssimas" crianças estão sendo vacinadas contra a gripe, alerta a médica Isabella Ballalai, da direção nacional e presidente da filial do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Isabella Ballalai. "Como a recomendação é nova, nem todas as famílias estão imunizando as crianças", explica a médica.

Ela lembrou ainda que as crianças até três anos precisam de uma dose especial, equivalente à metade da dose indicada para as pessoas acima desta faixa etária, incluindo os adultos. "Os pais devem ficar atentos, porque a apresentação pediátrica facilita o trabalho de quem vai aplicar a vacina e garante a aplicação da dose certa", afirma a presidente da filial fluminense da SBIM.

A Sanofi Pasteur é a única fabricante que dispõe de uma apresentação especial para crianças de seis meses a três anos. A vacina já vem pronta para uso - 100% dentro da seringa. "Como vem com a dose correta, esta apresentação reduz as chances de ocorrer reações adversas - como vermelhidão, dor e endurecimento da pele -, que acontecem quando a dose aplicada excede à indicada", explica a gerente-médica da Sanofi Pasteur, Jéssica Presa.

Até os nove anos, a criança requer duas doses da vacina contra a gripe na primeira vez que for vacinada, porque seu sistema imunológico precisa de mais estímulos para produzir anticorpos suficientes contra o vírus Influenza. Já no adulto, basta uma dose.

Importadas da França, as vacinas produzidas pela Sanofi Pasteur são seguras e bem toleradas. "Por serem compostas por vírus inativados (mortos), as doses não podem causar a gripe e, diferentemente das vacinas com vírus inteiros, proporcionam ótima tolerância, com baixos índices de reações adversas", afirma a gerente-médica da Sanofi Pasteur, Jéssica Presa.