Bem ali, no canto do teto da Igreja, estão acumuladas teias e mais teias de aranhas. Demonstram a força do tempo e, de certa forma, descuido com a limpeza do templo. Ao fundo, o som fúnebre e dilatado do órgão. As vozes dos fiéis misturam-se às conversas adjacentes. Uns falam das barbaridades que assustaram a pequena cidade, outros apenas dão risada do modo de se trajar da menina que acabara de entrar. Uma senhora não se conforma com o decote da moça e dos modos com que ela se porta diante do namorado. Logo chega um cão todo molhado, da chuva que caía forte lá fora. O barulho dos pingos chegava a ser mais alto que a própria homilia do padre. E assim, entre "améns" e louvações, os fiéis terminam o domingo. Logo vão passear na praça para fofocar a vida alheia e contar do último pileque que tiveram no fim de semana. Durante as palavras sacras do evangelho entra um homem mal trajado, com pouco mais de cinco dentes entre os lábios, um forte odor etílico exalado, aparentando seus quarenta e poucos anos de efemérides distorcidas. Alguns agora cochicham. Tem gente que apenas se resigna diante da situação, voltando logo a atenção para o conteúdo da missa. Ali bem no canto, gente com os olhos oblíquos que pensa no que irão fazer com relação ao senhor, que de tão sorrateiro, acabou causando tamanho rebuliço. Um dos ministros logo toma a providência esperada. Carrega o barbado alcoolizado para dentro da sacristia, para não sei o quê. Enquanto isso, o cão desentendido, deitado tranqüilo diante do altar, olhando tudo com invejável calmaria, recebe juntamente dos fiéis, a tão esperada benção do padre. Boa semana a todos... Nota do Editor: Rodolfo Tiengo Fernandes é estudante do 3º ano de Jornalismo do Unifae - São João da Boa Vista (SP).
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