Há vários anos um uruguaio chamado Eduardo Galeano escreveu o livro As Veias Abertas da América Latina, no qual apresentou uma série de impropérios contra o mercado, o capital, os estrangeiros, livro que foi chamado por Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Llosa, de "a bíblia dos idiotas". Eles são autores de outro livro, chamado de "Manual do Perfeito Idiota Latino Americano", um best seller na Europa e Estados Unidos mas pouco conhecido por aqui. Também, pudera, com essa denominação... Mas o problema é que eles têm razão e esta continua bem atual. Primeiro vamos definir o termo "idiota" para que se retire o peso da conotação ofensiva que se tem sobre o adjetivo: do Lat. idiota > Gr. idiótes, homem de espírito curto, ignorante Portanto, nada de ofensivo, exceto quando colocado com o objetivo de ofender. Os autores do livro, ou "manual", abordam como os latino americanos tratam das suas diferenças com os povos dos países ricos, sua sensação de serem explorados, da luta entre os bons e os maus (nós, latino americanos, sempre somos os bons... perdedores), abominando o consumismo mas sentindo-se superior (usando tênis de marca americana e tomando Coca-cola, como Evo Morales, flagrado em foto), sentindo orgulho de Chê, mesmo sem emprego, e convencido de que o que ele sabe, aprendido na vida, está acima da cultura que poderia ser adquirida em livros. Um conjunto de fortes e sinceras críticas (auto-críticas) com humor picante. Pois bem, como já disse, tudo isso parece mais atual do que nunca. Afinal, quando se pensava que a época dos ditadores havia findado por essas bandas, eis que a mesma ressurge com a força da idiotia patrocinada por todo tipo de governos, de várias cores ideológicas, populistas e caudilhistas. Chavez na Venezuela, que agora quer ficar até 2031, Fidel Castro que já está há 47 anos sentado no trono cubano, Morales, que recém tomou posse na "companheira" Bolívia e demonstrou a que veio, são mostras de um processo estranho ao que se espera de um caminho rumo ao Primeiro Mundo. A análise que se faz por parte de diversos comentaristas, sociólogos, historiadores, latinistas etc., é de que isso ocorre por causa das falhas do "neoliberalismo", do "capitalismo selvagem", da sanha do FMI e dos bancos, do imperialismo norte-americano, e por aí afora. E tais análises continuam a colocar o povo latino americano como vitima eterna, exatamente como descrevem os autores do "manual", latino-americanos que são os três. Seria o povo latino americano estúpido, incluindo, portanto, o nosso Povo? Por mais que insistam comigo de que a resposta à essa pergunta é afirmativa, continuo a acreditar que não. Pode estar vivendo uma fase de idiotia, sim, mas não é estúpido, cuja palavra, desta vez, coloco na verdadeira conotação ofensiva que se costuma promover com tal objetivo. Essa idiotia significa falta de informação sobre alternativas racionais, sobre como funcionam as leis simples do mercado, as regras simples de convivência cada vez mais relativizadas por movimentos estranhos à manutenção da liberdade do Homem, embora se utilizem falaciosamente da nobre palavra: liberdade. Estou absolutamente convicto de que o Homem comum, seja no campo, seja na cidade, sabe o que significa autonomia, sabe que a liberdade tem preço e sabe que contratos, acordos, pactos, devem ser respeitados, sabe que a sua liberdade termina aonde começa a do seu semelhante. E tanto sabe disso que no interior do País e, tenho certeza de que no interior da América Latina, nas pequenas cidades e comunidades de até cem mil habitantes, nas quais todo mundo se conhece, contratos são respeitados mesmo que não exista nenhum papel assinado. O "fio do bigode" vale. O descumprimento de um acordo nessas localidades coloca em xeque a vida do causador, muitas vezes sendo obrigado a se mudar de cidade. Se isso é praticado até mesmo entre iletrados, porque não compreenderiam um projeto que trás de volta à comunidade a autonomia perdida? O que está faltando é tão somente o projeto federalista ser conhecido no País, as pessoas tomarem ciência de que nenhum ditador, nenhum "macho" vai resolver os problemas nacionais, pois os locais não são de domínio do governo central. Bastará que as pessoas tomem conhecimento de que o dinheiro que a comunidade produz vai para Brasília (Bras-ilha) e não volta, exceto as migalhas - algo como 10% do bolo de arrecadação geral no País, que já passa dos 40% do PIB. E, certamente, sobre outros assuntos que lhe são caros, como saúde, educação, habitação, saneamento, segurança... Menosprezar a inteligência do brasileiro e do latino-americano é uma grave ofensa ao ser humano. Um erro que custa a vida de milhares, de milhões de pessoas, seja pela fome, seja por falta de atendimento na saúde, seja pela falta de saneamento, seja pela falta de estradas seguras, falta de ferrovias, falta de tudo. Até de esperança! Menosprezar as pessoas por mais simples que sejam, é condenar todo um Povo ao eterno atraso e aos sabores do fel das ditaduras, dos populismos, tudo causado pela renitente centralização de tudo que deveria ser de domínio das comunidades e regiões, submetendo-as à eterna dependência tirânica, clientelista, politiqueira e corrupta. Tudo sob o manto de uma falsa democracia. O caso Petrobrás talvez chame a atenção de muita gente para o que um ditador pode fazer com investimentos que não lhe pertencem. Não é difícil ocorrer a conclusão de que, se o Brasil fizer isso também, ninguém vai mais querer investir por aqui. Ok, concordo que o emocionalismo inflama a estupidez. Mas não se pode mentir por tanto tempo para tanta gente. Afinal, as conseqüências não tardarão. E para que tais conseqüências não sejam oportunidade para outras piores, é que estamos propondo o federalismo como o melhor e mais moderno, embora até mesmo antigo, caminho para a verdadeira democracia e progresso econômico e social. A autonomia legislativa, tributária, administrativa e judiciária é a ferramenta da modernidade, perfeitamente ajustada à uma das mais antigas aspirações humanas: a Liberdade. Mas liberdade se conquista com conhecimento de regras simples. O federalismo é portador dessa regras, todas inatas no Homem. A idiotia - falta de conhecimento das alternativas racionais - por que passa a América Latina é prato cheio para os agitadores que se aproveitam disso, para insuflar com reatividade, massas inteiras ao bel prazer de seus interesses pessoais, às vezes até mesmo alimentados por interesses maiores, pois o poder não apenas fascina, mas corrompe. O corporativismo, o mercantilismo, o paternalismo, o clientelismo, a falta de senso cívico, são alimentos constantes dos "movimentos sociais" e da culpabilização de terceiros, desviando-se sempre da análise objetiva dos próprios erros. Resta apenas a reatividade. Vamos trocar de presidente? Ok, mas isso vai resolver? Pode nos salvar por mais um tempo. É só isso? Não seria melhor eliminar a causa disso tudo para sempre? Só o federalismo pleno poderá cicatrizar as feridas que insistem em estar abertas. Só o federalismo pleno cessará a sangria da esperança. Não haverá mais livros que falem de exploradores ou de coitadismos e idiotias. E somos nós os responsáveis pelo nosso destino. A evolução deixa cicatrizes, curadas pela inteligência e objetividade. A manutenção do status quo na América Latina manterá feridas abertas e veias sangrando, como acusa, Morales, dentre outras coisas, sobre a legitimidade do Acre. Feridas que são reabertas, pois não foram objetivamente curadas. Eterno otimista que sou, acredito que o momento está chegando. Os federalistas estão se preparando (www.if.org.br). O resto será apenas questão de logística e publicidade. Tenho certeza de que a sabedoria inata do Povo Brasileiro será despertada com a luz do projeto federalista. Só assim, com o conhecimento desta alternativa, se poderá julgar o nosso Povo pela escolha que finalmente, estará disponível. Podemos curar para sempre as feridas abertas em nosso País. O remédio federalista poderá ser compartilhado com todos os irmãos continentais. Basta ação objetiva, pois o federalismo, além de profilático permite que o tecido sócio-econômico se construa, saudável e perene. Como na medicina, doenças e feridas se curam apenas com objetividade. Nota do Editor: Thomas Korontai é agente oficial e consultor especializado em propriedade industrial (www.komarca.com.br), autor de centenas de artigos sobre propriedade intelectual, federalismo e comportamento, publicados em diversos jornais e revistas. Foi fundador e líder de diversas entidades e movimentos, e autor de ações populares de nível federal. Autor dos livros Brasil Confederação (1993 download gratuito em www.federalista.org.br), É Coisa de Maluco...? (1998) e Cara Nova Para o Brasil - Uma Nova Constituição para Uma Nova Federação, a ser lançado em breve. Propõe o federalismo pleno das autonomias estaduais e municipais desde 1991. Fundador e Presidente Nacional do Partido Federalista (em formação) e Presidente do IF Brasil - Instituto Federalista. Reside em Curitiba/PR.
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