No equilíbrio da bola não é brincadeira, lá vem a COPA do mundo descendo a ladeira (*). Exatamente, estamos diante dos primeiros toques e gols de mais uma COPA, ou melhor, de mais um momento que o Brasil se transforma em sinônimo destas quatro letrinhas. Que têm, e não é de hoje, o poder de virar a cabeça de qualquer cidadão. E também daqueles que acham que isso é uma cidade bem, bem grande. Sinceramente, não acredito em nada que seja definitivo, não acredito que o Brasil, ou melhor, a COPA (desculpe a confusão que nos toma) seja definitivamente ruim, uma forma de nublar a visão em ano eleitoral. Mas também não acredito que milhões serão devolvidos aos cofres públicos depois de sermos hexa-campeões. E, prepare-se, pois irei fazer a afirmação mais delicada de todo o texto, momento em que poderei perder sua atenção para sempre. Mas, vamos lá: a COPA é normal, a COPA do mundo é uma coisa, um fato, um evento muito normal. Logo, como todas as coisas normais, tem seu lado positivo e negativo, suas mudanças constantes e suas mesmices eternas. E para não ficar exposto à sua desconfiança, em relação à minha última afirmação, farei uma pequena exposição das novidades e habitualidades desse momento tão, normal. Pois, outra vez os automóveis terão em suas janelas bandeirinhas do Brasil desbotadas pelo sol, as ruas estarão paralelepipedamente pintadas e enfeitadas, os jogos serão acompanhados de forma rigorosa por churrasco e/ou cerveja, samba e/ou pagode e os bolões de apostas continuarão difíceis de ganhar pra cacete, coisa para especialistas em sorte. Novamente a COPA do mundo está entre nós, e novamente o povo brasileiro irá cantar o hino nacional. No mínimo uma vez por semana. E teremos, de novo, o justo aquecimento de nosso inverno com a brasa da emoção, sem esquecer o aquecimento verde de nosso comércio amarelo, com algumas notas quentes. Mas, como afirmei (portanto, duvide) as coisas normais não são feitas só de novamentes, mas também de diferentementes. E para demonstrar este último, posso citar o fuso horário do país-sede, uma mudança que ocorre entre as COPAS e que altera nosso cotidiano, já movido pelos decisivos noventa minutos semanais; do funcionamento bancário à hora de tomar o remédio da pressão. E também posso lembrar da mutação das garantias dos aparelhos de TV, que já estão cobrindo até a COPA de 2034. Uma outra alteração são os verdadeiros adversários da competição, aqueles que entrarão em campo para ganhar muito, o máximo que puderem, que desta vez serão a Nike e a Adidas. E recordando de novo a diferença entre COPAS, me ocorrem os rostos milionários que nos perseguem; que já foi o de Pelé, Romário, Ronaldo e muitos etcs. Porém, o da vez é o de Ronaldinho Gaúcho. Que está no jornal, no ônibus, no bar, no anúncio de banco, absorvente íntimo, fixador de dentadura e em mais tudo o que se venda. E por falar em nossos heróis, suas mudanças (do país) acontecem cada vez mais cedo e por maior período, os tornando quase que produtos estrangeiros, faltando pouco para serem inéditos para nós mesmos, em nossa própria seleção. Bem, a COPA é isso, sentimentos, prejuízos, lucros, vitórias, derrotas. Vírgulas, pontos, um grande turbilhão de normalidades. Que, infelizmente, não tem o poder de interromper o ataque da corrupção, revelada nestes últimos quatro anos; mas que pode de um jeito instantâneo, nos encher de alegria verdadeira por termos ganho uma taça, ainda que vazia. (*) Referência à composição de Moraes Moreira, Lá vem o Brasil descendo a ladeira. Nota do Editor: Flávio Assum é colunista da seção Iscas Paranoicotidianas do site www.lucianopires.com.br, com formação em comunicação social.
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