Houve um tempo em que se dizia: Lula está reeleito. Entretanto, no auge das CPIs, a popularidade do presidente caiu e acreditava-se que diante de tantos escândalos de corrupção, que atingiram em cheio o PT e importantes autoridades governamentais, seria impossível a repetição do mandato. Agora se eleva novamente o coro do já ganhou e pesquisas apontam Luiz Inácio como vitorioso no primeiro turno. A causa de tal êxito residiria, dizem, no voto da pobreza, na medida em que os pobres são mais vulneráveis aos apelos populistas, sempre presentes nos discursos e nas ações do candidato petista. Há, contudo, que se considerar outros fatores além da predileção da classe mais baixa pelo benemérito distribuidor de esmolas institucionais, cuja linguagem tatibitate é facilmente assimilada pela camada mais baixa da população. O primeiro fator se refere a ampla proteção dada a Luiz Inácio, a começar pela dispensada pelo PSDB e pelo PFL que zelaram pelo presidente no Congresso Nacional. E se tucanos e pefelistas não foram mensaleiros (deputados mercenários comprados, dizem, por José Dirceu, que enviava seu homem de confiança, o famoso Waldomiro, para negociar a compra de votos), colocaram-se como "oposição responsável" que muito contribuiu para reforçar o poder de Sua Excelência. Já a "herança maldita" de FHC, possibilitou a continuidade do Plano Real garantindo também na esfera econômica a governabilidade do PT. O poderoso Antonio Palocci, continuador de Pedro Malan, até o último instante foi apoiado por deputados e senadores do PSDB e do PFL. Caiu por conta de acusações de corrupção feitas por seus próprios companheiros, e por abuso de autoridade no caso Francenildo. Palocci agradou sobremaneira o mercado, os banqueiros, os especuladores da Bolsa, enfim, garantiu a sustentação dos ricos ou como diz o governador Lembo num ataque de populismo, da "elite branca" para o governo Lula. Como os miseráveis que continuam passando fome os ricos não têm nenhuma ideologia, mas, sim, interesses. Desse modo, o voto é moeda que compra grandes privilégios ou prosaicas necessidades. Pode conquistar desde a bolsa-família que, sobretudo entre a população mais pobre do nordeste se assemelha a redenção vinda de um pai celestial, ou o lucro estonteante que faz a alegria dos homens dos grandes negócios. Afinal, ricos e pobres são eleitores de resultados. São estes que suscitam as promessas mais estapafúrdias da parte dos políticos sequiosos de ir ao encontro de aspirações, sonhos e esperanças de seus eleitores para conquistar seus votos. Como os pobres são maioria e fazem uma leitura mais emocional do mundo, para eles se voltam especialmente as pregações demagógicas, messiânicas e populistas como as que são feitas pelo candidato Luiz Inácio, em que pese este não ter propiciado aos mais necessitados o essencial, ou seja, o trabalho. Até Roberto Jefferson, que tocou sua trombeta de Jericó fazendo desabar as muralhas da corte, defendeu e defende o presidente como homem honesto, aquele que nada sabe, nada vê e não tem nada com as falcatruas nem do seu governo nem do seu partido, o PT. Outro aspecto que tem ajudado o candidato presidente é o fato dele ser até agora o único em campanha, com acréscimo poder de usar despudoradamente a máquina do Estado. Nesse sentido tratou de garantir o voto chapa branca do funcionalismo federal aprovando aumento para a categoria. Esta, antes frustrada com o governo que elegeu, pode regressar agradecida aos braços de seu líder e ao seio do PT. Fortalecido pela propaganda e pela abundante distribuição de benesses, Luiz Inácio tenta também incrementar mais ainda sua candidatura atraindo o PMDB. Quércia não é mais ladrão de pipoca, mas um aliado precioso, mas como a "novela" peemedebista ainda não chegou ao fim, não se pode prever seu desfecho. Em todo caso, como o PMDB é essencialmente um partido de resultados, uma "federação de interesses", conforme disse o senador Pedro Simon, pesará na balança da ambição os prós e os contras dos apoios a serem dados. Enquanto o tempo passa Luiz Inácio segue em frente com discursos e ações populistas e negando que é candidato. Busca o voto da maioria imersa em pobreza. Afaga os ricos no país de faz-de-conta onde a democracia é tropical e malandra. Mas, talvez, intua que existe um inconformismo latente, mais forte em setores da classe média, que pode contaminar a sociedade quando a campanha começar para valer. A luta será de Davi contra Golias, mas o resultado da contenda só as urnas poderão dizer. Refletirá um eleitor amadurecido ou espelhará uma realidade subdesenvolvida politicamente que reflete, inclusive, o momento pelo qual passa a América Latina onde avultam males antigos como o populismo, o caudilhismo e a mentalidade do atraso que nos mantém na contra-mão da história. Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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