Em todo lugar há uma Cristiane. Elas estão nos cursos de idiomas, no balcão da locadora de vídeo, atrás dos caixas das padarias, em todas as filas e no fim delas, dando aulas de gramática ou obturando os nossos dentes.

Sim, é verdade, as variações valem também. Como nunca sabemos se é Cristiane, Cristina, Christiane, Cristine, todas derivações de Cristo, que significam "ungido", usamos, como meninos sacanas, o subterfúgio de chamá-las de Cris. A alcunha nos livra do vexame de ter que corrigir o nome, ignorar o rubor das faces e dar uma desculpa, já que confundimos com a Cris que é tia da vizinha ou a Cris, nossa cunhada.

Poucos outros nomes valem tanto por si sós, ao contrário das Anas e Marias, que nos trazem a ansiedade de aguardar o complemento, pois que as Anas são Cláudias e Lúcias também, e as Marias são Paulas e Ritas. Cris são sempre só Cris. Tim Maia já se valeu desta simplicidade. Compor meia canção falando que do Leme ao Pontal não há nada de igual é malandragem de artista inteligente, e foi do que ele se aproveitou quando cantou que iria ver Cristina. Poupou o esforço de louvar as Lígias, Luizas, Bárbaras, Iolandas e Kátias Flávias, para tratar da beleza de ser só Cris.

Está enganado quem pensa que nunca se enamorou por uma Cris, já que nas Robertas, Andréas e Eduardas existe a Cris, que está em todo lugar. E ainda que seja mera confiança na memória, você não pode afirmar com certeza que aquela pequena que passeava distraída do outro lado da rua, e por quem você passou dias dividindo o tempo das tarefas com o de lembrar-se dela, respondia por outro nome que não fosse Cris.

Agora fica a confirmação de que deveria ter ido lá falar com ela. Poderia até não ser a mulher que passaria todos os outros dias com você, mas pelo menos acabaria com a angústia de não saber se era, ou não era, uma delas.

Nota do Editor: Fábio Malta é jornalista, natural de Niterói-RJ. Atualmente trabalha como repórter do jornal "O Fluminense Online", e como editor no laboratório de rádio da Universidade Estácio de Sá, onde cursou a graduação.