Na pequena e remota cidade de Eilat, em Israel, conheci um brasileiro que lá morava havia muitos anos. Um homem de meia-idade, esquisito, segundo suas próprias palavras. Durante um longo tempo, viveu sozinho. Depois, encontrou uma moça por quem se apaixonou e levou-a para sua casa. E aí começou o que descrevia como um verdadeiro martírio. Porque ela, naturalmente, queria arrumar a casa e organizar a rotina do casal, o que mexia com os hábitos arraigados dele. Agüentou o que pôde, porque afinal tratava-se de amor, mas por fim tomou uma decisão: pediu que ela o deixasse. E sozinho continuou. Um lobo solitário, conforme admitia. *** Lobo solitário. Esta expressão é cada vez mais usada. Se vocês entrarem no Google, e digitarem a tradução em inglês, "lone wolf", encontrarão nada menos do que 13 milhões de referências. "Lobo solitário" é marca de faca, de jogos eletrônicos e é o nome de um conhecido personagem de mangá. Sinal de que a coisa está mesmo na moda. Mas o que é, afinal, um lobo solitário? Para começo de conversa, vamos lembrar que o lobo é um bicho gregário, que costuma andar em bandos. O lobo solitário, portanto, é uma exceção. No caso dos humanos, é o tipo que vive sozinho, sem amigos, sem namorada, sem familiares. Detalhe: quanto mais sozinho vive, mais sozinho quer viver. A solidão transforma-se num estilo de vida, permitindo todos os hábitos, todas as manias, todas as idiossincrasias. E viver sozinho não é difícil, nesta época de culto ao indivíduo e de frágeis relações entre as pessoas - basta ver a proporção de casamentos que terminam em divórcio. A condição é mais freqüente entre homens - a gente nunca ouve falar em loba solitária, ainda que exista uma idade da loba (e uma telenovela com este título). Mesmo na meia-idade a mulher continua em busca de alguém, relutando - por razões óbvias, inclusive as de segurança - em viver sozinha. *** E é bom ser lobo solitário? Alguns homens dirão que sim. Viver como dá na telha da gente, sem ninguém ao lado para reclamar, aparentemente tem suas vantagens. Mas, como disse Deus ao criar a primeira mulher, não é bom que o homem esteja só. A solidão gera seus próprios problemas. Lá pelas tantas o cara está, por exemplo, falando sozinho. O que lembra a antiga piada judaica do solteirão que foi procurar um médico exatamente por isso, porque falava sozinho. Estava tão aflito que o doutor tratou de tranqüilizá-lo: afinal de contas, disse, há muita gente que fala sozinha. Tudo bem, doutor, suspirou o homem, mas o senhor não sabe o chato que eu sou. A chatice ao falar sozinho é o primeiro sinal de alerta. O segundo aparece quando o cara começa a uivar para a lua. Aí está na hora de procurar alguém. Mesmo que seja para bater boca. O que, aliás, dá sabor à vida.
|