"Embarcaram na conquista de um sonho, mas só encontraram um pesadelo". Alina Revueltas, filha de Fidel Castro Fidel Castro vai completar 80 anos. Filho presumível de um latifundiário espanhol da Galícia, o mais antigo ditador do planeta nasceu no dia 13 de agosto de 1926 e, por conta disso, já ganhou um retrato "kitsch" do cocalero Evo Morales como presente de aniversário, tecido (apropriadamente) em folha de coca, ao que se diz, em tamanho natural. Em edição recente, a revista Forbes, publicação abalizado das finanças internacionais, classificou Fidel como possuidor da sétima fortuna entre os governantes mais ricos do planeta, com uma reserva pessoal calculada em US$ 900 milhões. (Em resposta, Francisco Soberón, presidente do Banco Central de Cuba e lacaio de Fidel, disse que a informação da Forbes era "mentirosa do princípio ao fim", visto que Castro, ademais, "é um líder irrepreensível"). Mentirosa ou não, o fato concreto é que Fidel leva uma das melhores vidas do planeta Terra: ele preenche a maior parte do seu ócio beligerante em constantes (e dispendiosas) viagens internacionais, trafega no interior da miserável ilha em comboio de limousines blindadas, guarnecido por legiões de "seguranças" melhor aparelhadas do que a Guarda Suíça do Vaticano, de ordinário para se deslocar entre palácios e algumas das suas 36 mansões ocupadas por dezenas de serviçais, na cozinha das quais, para o deleite do seu rebuscado paladar, manda preparar pratos especiais com iguarias raras comprados a peso de ouro na Espanha - dispondo, para tanto, de vôos em aviões de uso exclusivo. Na prática, Fidel só compartilha da pindaíba cubana quando exige mais sacrifício do povo nos seus demagógicos e infindáveis discursos. Para além de ditador, pode-se considerar Fidel Castro como um tumor maligno, a corroer o corpo da América Latina. Com efeito, parafraseando o que dizia Don Quixote dos monstros da região de La Mancha, o tirano tem alma de pedra e coração de cortiça. Desde cedo, no seu pendor pela violência sanguinária, infernizou como ninguém a vida de Cuba. Ainda estudante, organizou um bando "Os Manicatos" ("mãos duras"), para fazer arruaças e impor a sua vontade pessoal. Mais tarde, segundo registro do historiador P. F. de Villemares (ver "História secreta das organizações terroristas" - Editions Ferni, Genève, 1976), tornou-se conhecido como o "homem do colt 45", quando aderiu deliberadamente ao gangsterismo político, executando adversários e dirigentes sindicais (entre outros, o líder estudantil Leonel Gómez e o dirigente portuário Aracelio Iglesias). Aventureiro típico, o assalto ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, tramado por Castro para chegar pela força ao poder, no qual foram massacrados cerca de 60 rebeldes, é reconhecido por analistas como uma das mais irresponsáveis ações militares jamais concebidas, uma soma de erros primários e equívocos fatais, no qual só quem lucrou, pela distorcida publicidade, foi o próprio Castro e sua camarilha. Díaz-Balart, irmão da ex-mulher de Castro (mãe de Fidelito, o filho alcoólatra do tirano), escreveu que o maior erro de Fulgêncio Batista, o ditador apoiado pelo Partido Comunista Cubano, foi o de libertar Fidel depois do ataque frustrado ao quartel de La Moncada, em 1953. Disse Balart, à época: "Sua libertação ainda vai trazer muitos dias de luto, dor, derramamento de sangue e miséria para Cuba". Não deu outra: durante os últimos 47 anos, a experiência socialista na "jóia do Caribe" tem sido a sobrevivência subjugada pela fome, carências e aflições - o espaço de infinitas tragédias só superadas, no plano político, pelos permanentes atentados aos direitos humanos -, traduzidos - dia e noite, ano após ano - na prática de torturas, expurgos, perseguições, assassinatos e fuzilamentos em massa. De fato, para manter Fidel no poder, o implacável sistema de Segurança do Estado cubano - sustentado, a cada quarteirão, pelo terror dos Comitês de Defesa da Revolução - coloca no chinelo os famigerados aparatos da Gestapo e da Tcheca, instrumentos de controle e espionagem acionados pelo nazismo e pelo comunismo soviético. No campo econômico, Cuba naufraga na mais completa insolvência, a depender do envio de dólares dos exilados da ilha em Miami, da ajuda interesseira do coronel Chávez ou do turismo sexual amparado na prostituição incontrolada, no qual o Estado totalitário - direta ou indiretamente - tira proveito. Na dura realidade, Fidel e a natureza indigente da economia comunista destruíram tudo, até mesmo a eficiente indústria açucareira do tempo de Batista. É só conferir os dados estatísticos: hoje, até mesmo as limitadas usinas de açúcar de Alagoas produzem três vezes mais do que a falida indústria açucareira cubana. Quem paga tudo é o povo, exaurido no círculo de ferro da fome endêmica que acode a ilha-cárcere, só rompido, às vezes, pelo circo da salsa domingueira ou, ironicamente, pela histrionice ostensiva do tirano falastrão. Agora, na decrepitude dos 80 anos, Fidel Castro ganha sobrevida, alargada pelos conceitos comunizantes do Foro de São Paulo e os petrodólares da "revolução bolivariana" do coronel Chávez. Sua nova meta é estabelecer a hegemonia, dentro do universo esquerdista, do que se considera como "nacional-populismo", uma corrente mais drástica no seu anti-americanismo e capaz de articular na América Latina, tão breve quanto possível, o "que foi perdido no Leste Europeu". Para isso, em parceria com Chávez e Evo Morales, e a cumplicidade de Lula e aliados, Fidel aciona a "aplicação" da Alternativa Bolivariana para as Américas, ALBA, cujo passo inicial é "resgatar os recursos naturais, minerais e energéticos do continente", para "destruir o capitalismo" e, em seguida, estabelecer a "utopia realizável". É o fim! Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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