Não adianta. Eu tenho que falar da Copa do Mundo. Eu bem que tentei. Fiquei aqui, o fim de semana inteiro procurando nos jornais, revistas, internet e na televisão algum assunto que me desse uma alternativa, uma luz, uma idéia para escrever alguma coisa que não se referisse à Copa do Mundo. Mas não teve jeito. Todos os jornais, revistas, sites e canais de televisão só falavam de futebol, do Parreira, de quadrados mágicos e tudo o mais. Para um cara que escreve crônicas, a Copa do Mundo é igual à Política: a gente pode até não gostar, mas tem que escrever sobre ela, porque se não fica parecendo que a gente foi visitar Vênus por uns dias e deixou umas crônicas escritas para tapar buraco. Uma vez, o Luis Fernando Veríssimo fez isso. Ele tirou umas feriazinhas, viajou para os Estados Unidos e deixou umas crônicas adiantadas, para serem publicadas durante uma semana no jornal "O Estado de S.Paulo". E o que é que aconteceu um dia depois? Aconteceu o 11 de setembro, e aqueles malucos derrubaram o World Trade Center. No dia seguinte, todo mundo falando sobre a tragédia, sobre o desconcertante número de mortos e, na coluna do Veríssimo, uma historiazinha sobre uma vovó que gostava muito do seu gatinho. No outro dia, então, piorou: começaram os boatos. Uns dizendo que o mundo ia acabar debaixo de um holocausto nuclear provocado pela vingança norte-americana, ou então por causa de um novo ataque dos radicais muçulmanos, dessa vez com armas químicas. E a coluna do Veríssimo falando sobre seus passeios com os netinhos. No terceiro dia, jornais inteiros com cenas de corpos mutilados, todas as personalidades do mundo comentando a importância histórica daquele momento e, na coluna do Veríssimo, uma crônica sobre o circuito gastronômico do Rio Grande do Sul. Bem, é claro que, no quarto dia, alguém se tocou. O Veríssimo, que estava lá, em plena Manhattan, e viu toda a tragédia praticamente ao vivo, começou a receber e-mails e telefonemas perguntando onde é que ele estava com a cabeça, o mundo acabando e ele escrevendo sobre churrasco gaúcho, onde é que já se viu uma coisa dessas? Só aí é que o jornal percebeu a gafe, o Veríssimo escreveu uma crônica explicando o ocorrido e pedindo desculpas, e tudo acabou bem. Só que, desde aquela época, todos os cronistas do mundo aprenderam uma lição. Têm uns assuntos chatos que, querendo ou não, é melhor escrever sobre eles. É o caso da seleção, agora. Tem que escrever sobre ela, nem se for pra perguntar se... se... se isso é hora de aparecer bolhas no pé do Ronaldinho! A uma semana da estréia, e eles me dão uma chuteira apertada para o Ronaldinho? Qual é o nome do camareiro da seleção? Dieguito Peron?
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