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Opinião
09/06/2006 - 18h15
Sociólogos do futuro
Pedro J. Bondaczuk
 

A ficção científica, mesmo contando com excelentes escritores, continua cercada de inegável preconceito por parte dos intelectuais, em especial dos críticos literários. É encarada como gênero marginal. Muitos nem mesmo consideram que se trate de literatura. Nas escolas, sequer é mencionada como tal. Nunca vi algum professor analisar em classe textos desses ficcionistas e nem recomendar aos alunos a leitura de seus livros. Apenas esporadicamente, e mesmo assim acompanhadas de notas em geral depreciativas, essas obras freqüentam as resenhas dos lançamentos nos suplementos culturais de jornais ou em revistas. Nenhum dos seus autores foi sequer cogitado em algum tempo para receber qualquer prêmio literário de projeção.

Age-se como se não se tratasse de literatura. Mas é e da boa. Quem lê os bons livros que exploram este inesgotável filão se diverte e aprende muito sobre ciência, arquitetura, psicologia e outros tantos campos do conhecimento. Porque, apesar dos enredos serem fantásticos, falando não somente de cidades ou países inexistentes, mas principalmente de sistemas galácticos, sóis e planetas fictícios, as histórias têm certa verossimilhança. Contam com todos os ingredientes para prender a atenção dos leitores mais exigentes: ação, aventura, amor, humor etc. E em geral, quando dos bons autores do gênero, são muito bem escritas.

Notem que não mencionei o caráter premonitório dessas obras e nem a hipervalorização da vida, a ponto de situá-la em locais distantes a anos-luz do nosso domo cósmico. Alvin Toffler, no livro "Choque do Futuro", faz a seguinte observação sobre o gênero: "A ficção científica é uma sociologia do futuro, um poder superinteligente para a criação do hábito da antecipação". O exemplo sempre mencionado quando se fala desse tipo de literatura é o de Júlio Verne. O ficcionista foi mais um profeta do que um escritor, embora tenha um dos melhores textos de língua francesa de todos os tempos.

Incrível foi a "descrição" que fez, criando cada detalhe, do submarino nuclear "Nautilus", quase um século antes dessa espécie de embarcação ser projetada e construída. A Marinha dos Estados Unidos batizou seu primeiro navio do tipo com esse nome, certamente em homenagem ao novelista. Verne previu a conquista da lua por parte do homem, quando essa façanha não passava de delirante fantasia (aliás explorada por outros escritores, entre os quais Edmond Rostand). A forma de lançamento que engendrou, para enviar sua nave ao satélite terrestre, é o sistema utilizado hoje pela Rússia.

O especialista em inteligência artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Marvin Minsky, vislumbra outro aspecto nos ficcionistas, além dessa sua capacidade premonitória. Observa: "Dentro de alguns séculos, Isaac Asimov e William Gibson talvez sejam considerados os grandes filósofos do século XX, enquanto os filósofos profissionais estarão quase esquecidos". O que vem a ser filosofia? Semanticamente, significa "estudo da vida". Os escritores de ficção científica "recriam" esse mistério, forjando, em sua imaginação, espécies inteiras de seres inteligentes e capazes de viajar, em engenhocas de altíssima tecnologia, no enorme vazio do espaço, em busca da conquista de outros mundos.

Estas "civilizações" extraterrestres são dotadas de todo um conjunto de valores, de regras e de interações sociais que rege seu convívio. Os autores desse tipo de literatura, portanto, têm como matérias-primas apenas a secura das palavras e a fertilidade da própria imaginação. No mais, criam tudo. Não têm modelos pré-fabricados. A maioria dos romancistas de outros gêneros mantém fichários com descrições de personagens, de vestimentas, de interiores de residência, de paisagens e de perfis psicológicos, entre outros. Quando vão escrever uma história, é só recorrer a esses arquivos, onde se obtém a desejada verossimilhança para os enredos.

Mas o escritor de ficção científica não conta com nenhum referencial real. Inventa tudo o que "descreve". Planetas, cidades, cenários, vestimentas, veículos, sistemas sociais etc. etc. etc. Tudo mesmo! Qual romancista, contista ou novelista convencional enfrenta esta tarefa e com tamanha competência? Aliás, a impressão que fica é que os críticos literários (repito, por puro preconceito), desdenham do gênero exclusivamente por ignorância. Por que não o conhecem e não aceitam admitir esse desconhecimento.


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.

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