Logo que entrou no ônibus Clotilde reparou naquele homem alto e forte que estava sentado sozinho no penúltimo banco do lado da janela. Enquanto procurava o dinheiro na bolsa e se aproximava do cobrador, sentia que ele também a observava. Imediatamente encolheu a barriga, arrebitou o quadril e jogou os ombros para trás, tentando ganhar um ar mais sensual. Uma freada brusca do motorista fez com que se desequilibrasse e perdesse a pose momentaneamente. Teve vontade de soltar um palavrão, mas conteve-se quando seu olhar cruzou com o do homem. Ele a encarava tão fixamente que um arrepio percorreu todo o seu corpo. A voz do cobrador interrompeu seus pensamentos. Ela precisava dar-lhe o dinheiro ou desobstruir a passagem, pois algumas pessoas esperavam na fila. Ainda meio atordoada, decidiu seguir em frente. Jogou os longos cabelos negros para o lado e arrumou a blusa de maneira que o decote ficasse um pouco mais acentuado. Assim que cruzou a catraca resolveu encará-lo uma segunda vez. Enquanto avançava pelo corredor pôde fazer uma observação completa. Olhos verdes, cabelos castanhos e lisos, barba por fazer. Concluiu que jamais havia encontrado um moreno tão lindo e sedutor como aquele. Ele a olhava de uma maneira diferente e penetrante como nenhum homem jamais havia feito. Parecia ver através de suas roupas e nem sequer disfarçava. A cada passo que dava, Clotilde sentia um frio maior percorrer-lhe a espinha. Conforme foi se aproximando, o frio transformou-se em calor e ela teve a sensação de que suas faces ficaram levemente ruborizadas. Com um ar provocante, sentou também do lado da janela no penúltimo banco, porém do lado oposto do homem. Olhando para frente, ela começou a pensar como deveria ser bom beijá-lo e sentir aquela barba roçando em seu rosto. Melhor ainda seria ter aquelas mãos enormes percorrendo livremente seu corpo. Só de imaginar sentiu um frio arrepiante no estômago. Após algum tempo, saiu do devaneio e percebeu, pelo rabo do olho, que o homem continuava a observá-la fixamente. Teve vontade de agarrá-lo e arrancar suas roupas ali mesmo, mas precisava se controlar. Iria descer no próximo ponto e tinha que se concentrar nisso. Encarando-o novamente, levantou-se e foi até a porta. Para sua surpresa, o homem fez a mesma coisa. Enquanto ele caminhava, Clotilde sentiu as pernas bambas. Em poucos segundos estava parado atrás dela. Agora, apenas alguns centímetros separavam suas costas do peito dele. Podia sentir o calor e o perfume do seu corpo. O coração disparou e ela achou que fosse desmaiar, então se segurou com mais força ainda no cano de metal que compartilhavam. Finalmente o ônibus parou. Com a respiração ofegante, ela desceu e começou a andar vagarosamente. Foi seguida. Não sabia o que fazer e nem como agir. Não conseguia mais pensar racionalmente; sua única vontade era render-se aos desejos daquele desconhecido. Depois de caminhar por alguns minutos não pôde mais resistir. Encostou-se num poste e ficou à espera do homem com o coração descontrolado e a respiração mais ofegante do que nunca. Queria entregar-se a ele ali mesmo, no meio da rua. Sem titubear, o moreno rapidamente agarrou-a pela cintura com a mão esquerda, encostando os dois corpos. Ao mesmo tempo que Clotilde sentiu a boca dele se aproximar de seu ouvido percebeu que, com a mão direita, o homem encostava algo estranho em seu peito. Foi só então que o ouviu sussurrar: – Passa a carteira! Nota do Editor: Monica Storino é jornalista que se arrisca na literatura. Já publicou um livro de contos com outros autores (Deste Lado), fez resenhas para sites e trabalhou na Mythos Editora. Atualmente edita um pequeno jornal de bairro e atua como freelancer.
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