Tem gente que não gosta de futebol? Tem. Tem gente que não gosta de futebol, assim como tem gente que não gosta de beisebol, ou de basquete, ou de Fórmula-1. No caso do Brasil, o futebol apareceu relativamente tarde e foi recebido com estranheza, quando não com hostilidade. Tratava-se de coisa de estrangeiros, dos ingleses, que, no final do século 19, tinham empresas no Brasil - dessas empresas saíram os primeiros jogadores. Havia times da Companhia de Gás, da São Paulo Railway, do London Bank. Os paulistas olhavam com espanto aqueles homens muito brancos correndo como malucos atrás de uma bola. O escritor carioca Lima Barreto, que fundou uma Liga Antifutebol, era dos mais revoltados: para ele, o futebol era coisa de "arrogantes e rubicundos caixeiros dos bancos ingleses", um esporte antinacionalista e racista. Tinha algum motivo para pensar assim: em 1921, o governo recomendou que não fossem incluídos negros nem mulatos na seleção de futebol que disputaria um torneio na Argentina. Isto mudou quando grandes times, como Corinthians e Vasco da Gama, começaram a aceitar jogadores pobres e negros. O futebol rapidamente se popularizou, e o mesmo aconteceu em outros países: a Copa é uma confirmação disto. Mas o esporte bretão continua não sendo unanimidade. Na Holanda, um grupo de mulheres acaba de lançar um manifesto contra a Copa do Mundo. O objetivo é formar um movimento feminino antifutebol, porque "os homens ficam grudados na TV, esquecendo de nós e de tudo. Eles acham que as mulheres não entendem o jogo e só servem para servir cerveja e petiscos". Procede a reclamação? Será que o futebol é uma coisa inventada por homens para afastar as mulheres? Isto até pode ter acontecido no passado, mas agora já não é mais verdade. Para começar, o futebol feminino é uma realidade. Não inteiramente consolidada, porém. O técnico da seleção brasileira de futebol feminino que disputou as Olimpíadas de Atenas, René Simões, fala do preconceito das próprias mulheres em relação ao esporte: "Muitas jogadoras perderam amigas". É um problema cultural, que resulta, em primeiro lugar, do desconhecimento. É difícil gostar de um esporte que a gente não entende. Por causa disso um curso sobre futebol para mulheres foi recentemente instituído na Alemanha. Uma coisa é certa: não dá para viver no Brasil e ignorar o futebol. Quanto às mulheres holandesas, poderiam resolver seu problema facilmente. Não precisariam servir cervejas e petiscos se sentassem ao lado dos maridos e namorados e assistissem ao jogo, torcendo também. Se eles quisessem cervejas e petiscos, teriam de providenciar por conta própria. O futebol pode ensinar muita coisa às pessoas. Por isso é um grande esporte.
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