Essa garçonete me mata. Durante o almoço no Princesinha da Ilha, ontem à tarde, fui muito incisivo com ela, dizendo à queima-roupa quando veio trocar a toalha de mesa: "Como vai o sortudo do seu marido?" Disse isso como se estivesse pedindo um contrafilé bem-passado, mas cobrindo "sortudo" com uma fina camada de sensualidade. (Segundo o que ouço por aí, minha voz ajuda muito nessas horas. É possível). Como sabem, é a técnica do meu xará em "A mão e a luva", de Machado de Assis. Fazia o ginásio quando li o romance pela primeira vez, amargurado com a sorte do pobre Estêvão, mas não pude deixar de ficar para sempre impressionado com a craqueza de Luís Alves, trocando duas ou três palavras decisivas com a heroína, junto ao piano, e arrebatando-lhe o coração - um tiro de misericórdia no obsessivo romantismo do rival. Na época, torci pelo incorrigível poeta (e acho que ainda torço), mas a vida adulta ensinou-me que a técnica luís-alvina funciona bem em alguns casos. No da garçonete quase funcionou. Enquanto estive ali, brigando com a sola de sapato que colocaram em meu prato, ela não parou de lançar-me olhares furtivos, com um sorriso lindo nos lábios, cheia de renovado encanto em suas idas e vindas no salão do restaurante. Coisa de louco: baiana, trinta e quatro anos, molejo nagô. Se já leram o meu "Ensaio geral", sabem que não resisto a um molejo nagô. Terminado o almoço, lubrificado o ego do cronista, antes de sair rabisquei meu telefone no papel da toalha, piscando significativamente para ela enquanto batia com a esferográfica na mesa. Zuleica veio toda sestrosa (permitam-me) com a conta e o cafezinho, tirou a mesa e a toalha, que de repente virou uma bola de papel amassado, e disse o de sempre, quando almoço ali: "Valeu, papai."
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