Ser casado na terceira idade é apenas um dos fatores de proteção contra o uso de tabaco encontrados em pesquisa desenvolvida na Unifesp. A prática de alguma atividade física, idade mais avançada e pertencer a grupos religiosos evangélicos também contribuem para reduzir a chance de render-se ao hábito de fumar entre os idosos brasileiros, principalmente entre os do sexo masculino. Uma pesquisa apresentada como tese de doutorado na Unifesp buscou retratar o hábito de fumar entre a população idosa brasileira. O estudo mostra que idosos casados apresentaram 66% menos chances de usar tabaco quando comparados aos não casados ou viúvos. A idade também esteve relacionada à redução da prevalência do hábito. O aumento dela, a cada ano, esteve associado a uma redução de aproximadamente 1% na chance do indivíduo fumar. De acordo com a psiquiatra Valeska de Melo Marinho, autora do trabalho, a associação entre estado civil e fumo entre idosos pode ser explicada por mecanismos sociais. "O maior aporte social recebido por sujeitos casados favoreceria o abandono do uso neste grupo, enquanto no grupo dos não casados a maior tendência à solidão e ao isolamento aumentaria a vulnerabilidade para a manutenção do hábito", explica. "Com relação à idade, consideramos a hipótese de o achado estar relacionado ao abandono do hábito com o aumento da idade e também à maior mortalidade entre os idosos fumantes". O estudo, que foi realizado com cerca de 7 mil idosos de ambos os sexos, moradores de áreas urbanas do Rio Grande do Sul e com idade superior a 60 anos, também aponta a religião evangélica como fator de proteção duas vezes maior para o uso do tabaco, quando comparado a outras religiões. Para a psiquiatra, isso ocorre porque a religião evangélica, com freqüência, envolve maior engajamento nas atividades e práticas religiosas e tende a ser pró-ativa na orientação de hábitos de vida. Outro dado encontrado no trabalho de Valeska mostra que os idosos que praticavam algum tipo de atividade física também tendem a fumar menos. Baixa renda e analfabetismo Baixa renda e escolaridade caminham na contra-mão, quando o assunto é prevenção ao tabagismo. Valeska verificou que os idosos pertencentes ao grupo de baixa renda apresentam chance 52% maior de fumar. Já quando a escolaridade foi analisada, a pesquisadora encontrou maior uso do tabaco no grupo com menor nível de escolaridade, aumentando a chance de tabagismo em 35%. "Esses resultados reproduzem achados de outros estudos nacionais e internacionais, mas assumem mais importância entre nossos idosos, em função da elevada freqüência de analfabetismo encontrada neste grupo, que foi de 20%", afirma a psiquiatra. Ser do sexo masculino, apresentar problemas respiratórios e transtornos psíquicos como ansiedade são características que também estiveram relacionadas ao maior uso da substância. No levantamento da psiquiatra, a prevalência do uso de cigarro entre idosos foi de 28,9% para os homens, 13,6% para as mulheres e 18,8% para ambos os sexos. Falta de orientação Para Valeska, os idosos representam um desafio especial quando o assunto é tabagismo. "Esse grupo corresponde a uma faixa populacional em rápido crescimento e faz parte de uma geração que desconhecia os efeitos negativos do fumo e freqüentemente é negligenciado nos levantamentos epidemiológicos que avaliam a prevalência do fumo na população adulta", afirma a pesquisadora. De acordo com ela, o tabagismo entre idosos contribui para o aumento de doenças e incapacidades relacionadas às doenças comuns do envelhecimento e está associado com todas as principais causas de morte nessa população. "Os idosos fumantes, na maior parte das vezes, não recebem informações adequadas sobre os riscos relacionados à manutenção do hábito de fumar", explica Valeska. "Estes idosos acreditam que os prejuízos causados pelo fumo já aconteceram e que poderiam fazer muito pouco para reduzir os riscos à saúde".
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