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Crônicas
15/06/2006 - 18h19
Como se constrói uma notícia global
Chico Guil - Agência Carta Maior
 


O caso da Ucrânia

A reportagem chegou numa tarde ensolarada, com uma velha idéia fixa, criada pela mesma emissora sete anos atrás. O resultado não poderia ser pior, e aqueles que sabiam a verdade não poderiam ficar mais deprimidos.

Em 1999 os repórteres da Rede Globo publicaram uma reportagem mostrando que em Prudentópolis/PR, onde moro, toda a população fala ucraniano. Para fazer o vídeo procuraram alguns cidadãos que preservam o idioma trazido pelos ancestrais da Europa Oriental. Embora muitos descendentes de imigrantes ucranianos locais realmente saibam falar o idioma de seus avós, o cotidiano do município realiza-se na língua de Camões.

Não haveria o menor problema se todos aqui falassem ucraniano. Pelo contrário, seria muito bom. Mas somente uma parcela da população tem esse privilégio. Ainda assim, a Globo insinuou que aqui somos ucranianos, e que falamos ucraniano.

Embora eu seja uma mistura de polaco, italiano e ucraniano, não me senti ofendido com a reportagem. Mas teve muita gente que não gostou. Uma velha diferença entre poloneses e ucranianos quase reacendeu após a reportagem. Graças aos céus, a sensatez prevaleceu entre meus conterrâneos, e tudo voltou à normalidade.

Dias atrás a Globo voltou, com a mesma idéia fixa. Os repórteres chegaram com sua urgência de sempre e deixaram nossa ilustre diretora do Museu do Milênio em estado de pavor. Ela teria de arranjar para eles, imediatamente, um grupo de ucranianos vestidos a caráter (de azul e amarelo) para que a reportagem pudesse, mais uma vez, mostrar ao Paraná e ao Brasil que aqui é uma espécie de Kiev e que a torcida da "Nova Ucrânia" está no pique total. Fizeram uma romaria pela cidade, catando um ucraniano aqui, outro acolá, todos dispostos a deixar seus afazeres para vestir a camiseta do time, aprontar uma mesa com comida típica, empunhar a bandeira do seu saudoso país e sorrir para a câmera.

Que bom que a Globo faz essas coisas! Como eles são importantes, e como nos emocionam! Trazem turistas e enchem o bolso de todos os ucranianos, poloneses, alemães, japoneses, italianos, austríacos, suecos, russos e outros europeus, além de negros e índios que compõem o saudável caldeirão étnico de Prudentópolis. Obrigado, Globo! Mas, por favor, deixe nosso povo ser o que realmente é, sem essa forçada maquiagem.

O caso Kaká

Âncora da Globo: Zagallo, você acha que o Kaká vai surpreender nesta Copa?

Zagallo: Ahn! Ah, sim, o Kaká é um excelente jogador. Tenho certeza de que ele vai surpreender nesta Copa.

Todos viram que ela induziu Zagallo a fazer o elogio a Kaká. E então foi até este e comunicou a opinião daquele como se fosse um elogio espontâneo!

Âncora: Kaká, o Zagallo disse que você vai ser o jogador que vai surpreender nesta Copa.

Kaká: O Zagallo disse isso? Puxa, que bom, um elogio desses vindo do Zagallo...

Nosso atacante fez papel de bobo diante de todos os telespectadores, por ignorar a malícia da Âncora Global (para quem o espetáculo precisa acontecer, a qualquer preço). Não estou insinuando que Zagallo não devia dizer aquilo, afinal de contas, Kaká é um exemplo de jogador e de cidadão para qualquer brasileiro. Forte, inteligente, craque, bonito e, acima de tudo, humilde enquanto ousado. Mas a fofoca da Âncora, ansiosa por produzir sensação, criou uma situação falsa, com o testemunho de uma nação de telespectadores.

O caso Ronaldo

Durante a famosa vídeo-conferência entre os chefes da seleção e a presidência da República, Lula perguntou ao Parreira se Ronaldo estaria mesmo gordo, conforme a insistente imprensa esportiva brasileira. Foi uma pergunta absolutamente normal, um questionamento de qualquer brasileiro que torça pela Seleção. Em nenhum momento ele afirmou que alguém estaria gordo. Mas o repórter da Globo foi ao Ronaldo e falou que Lula disse que ele estava gordo. Constrangido, Fenômeno disse que isso era tanto verdade quanto era verdade que diziam que o Lula "bebe pra caramba", e que nem por isso saía por aí dizendo que o presidente bebia pra caramba! A fofoca criou um mal-estar que poderia degenerar numa inimizade duradoura e em muitos votos para Alckmin, caso ambos os "Fenômenos" não fossem bastante tarimbados com as fofocas midiáticas.

A Âncora da Globo entrevistou Ronaldo dias depois e questionou-o sobre o fato de que em todas as Copas ele apresenta "problemas". Fenômeno respondeu que não há nenhum problema grave, exceto aqueles causados por "certos jornalistas". A Âncora riu e continuou rindo, achando tudo aquilo muito lindo, como se o "problema" não fosse com a emissora que ela representa com tanto garbo e galhardia!

Os programas esportivos de outras emissoras gastaram os ouvidos dos telespectadores malhando Lula por ter dito "algo que um presidente não poderia dizer jamais". Vi muitos cronistas aproveitando a ocasião para descarregar todo seu preconceito contra o ignorante, o iletrado, o nordestino, o sem-dedo, o chorão, o quase-negro presidente do Brasil. Que dó! Há centenas de milhares de possibilidades de se criar matérias interessantes, criativas, verdadeiras e vendáveis (não é esta a sua motivação?), e vocês ficam criando novela para poder vender o peixe!

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