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Opinião
16/06/2006 - 08h01
Biotecnologia e qualidade de vida
Décio Luiz Gazzoni
 

Há algum tempo encontrei em um congresso científico a Drª Lila Vodkin, prestigiada cientista da Universidade Illinois (EUA), que me contou, entusiasmada, os progressos do mapeamento do código genético da soja, liderado por ela. Trata-se de um investimento de dezenas de milhões de dólares, envolvendo seis universidades, que estudam mais de 200 mil pedaços de cromossomos, para identificar os genes da soja.

"História de americano louco", alguém pode pensar. Mas, a Inglaterra, a Alemanha, a França e o Japão também investem na identificação dos genes de plantas e animais.

Só para país rico, com dinheiro sobrando, outro pode comentar. China, Cuba e Índia investem maciçamente em engenharia genética. O governo chinês pretende liderar o setor de biotecnologia entre os países emergentes, ainda nesta década e, até 2020, liderar o setor em escala planetária.

O governo chinês é visionário? Não, é pragmático. Esses países entendem que o futuro do agronegócio está reservado para quem dispuser de diferenciais mercadológicos. Um agricultor pode vender sua produção bruta para o atravessador, a preço vil, ou pode agregar valor, processá-la e embalá-la, obtendo um diferencial de preço. O mesmo ocorre em escala global. O Brasil pode limitar suas aspirações ao crescimento vegetativo de sua venda de soja (que hoje vale uns US$ 10 bilhões) ou agregar valor à soja de maneira que a torne um diferencial no mercado. Como fazê-lo?

Para responder à questão, pesquisei na literatura o que sairá da cornucópia dos cientistas nos próximos anos e discuti o tema com renomados cientistas, do meu âmbito de conhecimento. Grupei os avanços científicos em cinco categorias: enriquecimento de alimentos com minerais ou vitaminas; enriquecimento nutricional de óleos vegetais; melhoria dos teores e da qualidade de carboidratos e proteínas; melhoria de componentes funcionais (nutracêuticos); e redução de componentes indesejáveis.

O resultado da minha pesquisa aponta para uma significativa melhora na sua qualidade de vida. Por exemplo: a vitamina E, sintetizada apenas nos vegetais, é essencial para os animais e seu efeito anti-oxidante previne inúmeros distúrbios de saúde. Os cientistas introduziram na soja o gene que aumenta o teor de tocoferol, que é o precursor da vitamina E, tornando a soja importante fonte desta vitamina. Isto significa que o envelhecimento de seu organismo será retardado.

A soja tem alto teor de minerais, como cálcio e fósforo. Entretanto, a maior parte pode estar indisponível na forma de sais do ácido fítico. Os cientistas introduziram um gene que sintetiza a enzima fitase e torna disponíveis esses nutrientes da soja para o organismo. Isto pode significar menos osteoporose.

O óleo de soja é o mais consumido no Brasil e um dos mais consumidos no mundo. Torná-lo mais saudável é um desejo dos médicos e uma preocupação dos cientistas. Existem genes que melhoram o perfil dos ácidos graxos da soja. Um deles aumenta o ácido oléico, reduz o teor dos ácidos saturados e, conseqüentemente, a necessidade de hidrogenação dos ácidos graxos para produzir margarinas, tornando o óleo mais saudável e diminuindo os custos de processamento. O seu coração, penhorado, agradece.

Por outro lado, uma descoberta recente permite substituir, parcialmente, os ácidos graxos ômega-6 por ômega-3, o que diminui acentuadamente o risco de acidentes cardiovasculares. Ponto para a saúde! E ponto para a biotecnologia, que permite este ganho de qualidade de vida.

A soja possui algumas deficiências de aminoácidos, essenciais para o organismo humano, que podem ser corrigidas com a introdução de genes que sintetizam esses aminoácidos ou aumentam o seu teor. Entre os componentes funcionais, aqueles que mais entusiasmam os cientistas são os fitoesteróis e as isoflavonas. Essas substâncias são responsáveis pela redução dos riscos de acidentes cardiovasculares e de tumores de mama, útero e próstata, entre outros. Os cientistas identificaram os genes responsáveis por estas substâncias, o que gerou novas variedades de soja com propriedades terapêuticas muito superiores às atuais. Mais pontos para a saúde. E para a biotecnologia!

Apesar de ser um ótimo alimento, a soja possui restrições. Ela pode produzir alergia ou flatulência intestinal, em parcela da população sensível a estes distúrbios. O problema está sendo resolvido pelos cientistas. Eles isolaram o gene que sintetiza a proteína P34, responsável pela alergia da soja. Também foi identificado o gene que sintetiza a rafinose, que causa a flatulência. Ao interromper as atividades dos dois genes serão eliminados esses dois inconvenientes da soja. Anote mais estes pontinhos!

Usei o exemplo da soja, porém o exposto se aplica aos outros grãos, frutas, hortaliças ou produtos derivados de animais. O Brasil pode acomodar-se e oferecer uma matéria prima convencional ou investir, fortemente, em tecnologias de última geração, e agregar valor aos produtos ofertados, tornando-os mais saudáveis e nutritivos, a melhores preços e condições no mercado. A decisão é nossa, mas precisamos ser rápidos, porque os concorrentes já estão virando a curva lá na nossa frente!


Nota do Editor: Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, mestre em entomologia, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

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