Depois de 10 anos, volto a Israel, para uma conferência na Universidade Hebraica de Jerusalém. E é uma surpresa. Que começa já no desembarque: o aeroporto de Tel Aviv, até há alguns anos um lugar modesto e desconfortável, deu lugar a uma gigantesca, moderna construção. E a surpresa continua na condução que nos leva a Jerusalém: excelentes estradas, que passam por várias localidades, onde o número de gruas é uma evidência da rapidez com que se constrói. O PIB cresce 4% ao ano, não tanto quanto na China, porém mais do que no Brasil. E Israel é um país que não tem recursos naturais, onde a falta de água é um problema sério. Como se explica, então, o crescimento? Pela aposta na tecnologia: computação, produtos químicos, medicamentos. Tecnologia esta ligada, por sua vez, a um alto nível educacional. Mas o sistema de proteção social não consegue evitar a concentração de renda resultante da economia neoliberal que condenou o kibutz, uma das mais interessantes experiências socialistas do século 20, ao fracasso. Isto sem falar no conflito com os palestinos. Os anos de Intifada, o levante que mobilizou a população palestina, abalaram seriamente a economia, por causa da diminuição do turismo, outra importante fonte de renda. A Intifada cessou, mas os palestinos, cansados de políticos corruptos, votaram no Hamas, movimento que não reconhece Israel. E que já está enfrentando problemas. Uma coisa é a retórica do terror; outra é conduzir a administração pública. De repente, o Hamas se viu sem dinheiro para pagar os funcionários. Sua popularidade diminuiu rapidamente e hoje é apoiado por cerca de um terço da população. Mas nem só de conflitos é feito o cotidiano das pessoas. Notícias da Copa do Mundo estão em todos os jornais e na tevê. Os israelenses são fãs do futebol, mas o futebol não é fã de Israel; o país não se classificou para a Copa. Com o que, os israelenses se vêem confrontados com uma questão interessante: para quem torcer? Aí pesam as numerosas identidades grupais. Os judeus etíopes, que são negros, preferem a Costa do Marfim. Os latino-americanos, fãs de Maradona, estão com a Argentina. Mas o país que concentra as simpatias dos israelenses é o Brasil. A foto de Ronaldinho está em todos os jornais. E bandeiras brasileiras podem ser vistas em vários lugares. Enfim, o futebol é uma válvula de escape para os problemas israelenses, como o é para os problemas de todo o mundo. Seria bom se os conflitos pudessem ser resolvidos no gramado, se a bola tomasse o lugar do mísseis e das bombas, se Ronaldinho fosse o modelo para os líderes políticos. Mas a tal grau de racionalidade ainda não chegamos.
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