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Opinião
19/06/2006 - 07h12
Curtindo um masoquismo
Marli Nogueira - MSM
 

Viver no Brasil, mas com plena consciência do seu avançado estado de putrefação moral, intelectual e política é, antes de tudo, um sintoma de masoquismo. Porque é impossível ser feliz em um país que faz questão de vencer campeonatos de corrupção, de criminalidade, de sem-vergonhice explícita, de politicalha, de despótica enganação, de subdesenvolvimento e, principalmente, de irremediável atraso mental. Então, o jeito é mesmo chafurdar no terreno estercado de opiniões para lá de fajutas acerca de tudo o que nos diz respeito e, ainda por cima, tentar encontrar nisso algum prazer.

Não me sendo dada escapatória, acabei por me ver contaminada por esse distúrbio terrível e dei de assistir, com alguma freqüência, ao programa "Espaço Público", da TV Cultura, no qual os convidados (geralmente os mesmos de sempre) se esmeram em compor variações sobre o mesmo tema - a ideologia esquerdopata -, enquanto os demais lhes fazem coro. E, para auge do meu deleite masoquista, ainda perceber que toda essa sinfonia vem disfarçada sob o nome de "debate".

No programa da última quarta-feira - 14 de junho -, meu lado masoquista pôde se esbaldar à larga com o tema "A guerrilha no Brasil nos anos 60 e 70", exposto por Daniel Aarão Reis Filho, professor do Núcleo de Estudos Contemporâneos da Universidade Federal Fluminense. Ele acaba de publicar a segunda edição de seu livro Imagens da Revolução (que certamente irá provocar um fecaloma cerebral no bicho-homem brasileiro, cuja cabeça já está mais do que entupida de excrementos ideológicos) e estava lá, todo professoral, para deitar falação sobre os "anos de chumbo".

Para quem não sabe, Daniel foi dirigente do grupo MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro, em alusão ao dia em que Che Guevara foi capturado pelo exército boliviano). Preso e banido para a Argélia, Daniel Aarão foi depois para Cuba, onde recebeu treinamento de guerrilha. Mas verdade seja dita: Daniel é um dos poucos que fez uma profunda autocrítica de seus tempos de revolucionário, que hoje abomina. Tanto que, em seu livro, ele critica impiedosamente os atos de loucura praticados pelos comunistas de sua época de juventude. Essa nova postura nos faz lembrar à célebre frase: "Quem não foi marxista na juventude não tem coração; quem o é na maturidade, não tem cabeça".

Só para se ter uma idéia, aqui vai uma de suas afirmações, que pode ser encontrada no artigo "Este Imprevisível Passado", publicado no nº 32 da revista Teoria e Debate, editada pelo Partido dos Trabalhadores:

"Antes da radicalização da ditadura, em 1968, e antes mesmo da sua própria instauração, em 1964, estava no ar um projeto revolucionário ofensivo. Os dissidentes se estilhaçariam em torno de encaminhamentos concretos, formando uma miríade de organizações e grupos, mas havia acordo quanto ao nó da questão: chegara a hora do assalto. Neste quadro, os revolucionários não resistem, atacam. Alegaram, em seu favor, que os autênticos revolucionários não pedem licença para fazer a revolução (...). Aprisionados por seus mitos, que não autorizavam recuos, insensíveis aos humores e pendores de um povo que autoritariamente julgavam representar, empolgados por um apocalipse que não existia senão em suas mentes, jogaram-se numa revolução que não vinha, que, afinal, não veio, e que não viria mesmo."

Feita essa minibiografia, volto ao programa de TV. Em contradição com o que ele afirmou acima (o que não é nada estranho, em se tratando de esquerdopatas), Daniel chegou a dizer, durante sua exposição, que "os grupos guerrilheiros deixaram um legado" para a nação brasileira. Dá para acreditar?

Mas nem mesmo Sacher-Masoch seria capaz de descrever o prazer mórbido com que me contorci ao ouvir um aparte do jornalista José de La Peña, que indagou ao expositor se já não era hora de se incluírem lições sobre o período da guerrilha nos livros didáticos usados pelas criancinhas brasileiras. Pode um disparate desse? Um homem grandinho, de cabelos brancos, jornalista, assíduo freqüentador e "debatedor" de um programa exibido em cadeia nacional, preocupado em mostrar mazelas à nova geração, ao invés de ensinar-lhe os fundamentos indispensáveis à verdadeira democracia! Por que não se lembrou ele de sugerir Jouvenel, Lord Acton, Unamuno, Ortega y Gasset, Bastiat, Hayek, Mises, Furet, Besançon, Paul Johnson e tantos outros pensadores que realmente são dignos de serem estudados? Por que não se lembrou, pelo menos, de Sófocles, de Eurípedes e de Shakespeare? De Alighieri e de Dostoievski? Por que não sugeriu os grandes filósofos gregos, Sócrates, Platão e Aristóteles?

Para completar meu regozijo masoquista só me falta saber o conceito que semelhantes criaturas têm de democracia! Na certa ainda fazem parte daquele círculo de philosophes que, não enxergando um palmo adiante do nariz, vão tateando no escuro enquanto esbarram em mediocridades do tipo "redistribuição de renda", "bolsa-óbolo", "sistema de quotas" e tantas outras coisas do gênero e, incapazes de enxergar a absoluta falta de correspondência entre tudo isso e um regime democrático, acreditam que este se baseia em tais balelas.

Esse pessoal precisa acordar urgentemente! Se alguém pensa que a elevação do padrão de vida dos brasileiros em geral se fará com pensamentos estapafúrdios como esses, pode tirar o cavalo da chuva antes que ele morra de pneumonia. O único e infalível meio de desenvolver uma nação é dar-lhe injeções de infra-estrutura. E por infra-estrutura deve ser entendido não apenas incremento da capacidade energética, construção de estradas, melhoria da capacidade produtiva, modernização dos portos e tantas outras providências que há muito tempo o Brasil não vê, mas também - e principalmente - uma boa matriz intelectual. Só ela garante a continuidade do caminho. Não há outra saída. Manter-se fiel a projetos demagógicos é, em última instância, manter-nos no atraso. Os anos vindouros se encarregarão de comprová-lo.

Mas enquanto o país não acorda, enquanto ele é governado e "debatido" por mentirosos, trapaceiros, quadrilheiros e ingênuos, não me resta outro remédio para suportar a vida nele: vou curtindo o meu masoquismo assistindo ao "Espaço Público", que para agüentar a tristeza e o nojo tenho mesmo de sentir algum prazer, por mais mórbido que seja. Afinal, ninguém é de ferro!


Nota do Editor: Marli Nogueira é Juíza do Trabalho em Brasília.

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