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Crônicas
20/06/2006 - 07h15
Capitalismo fuleiro
Lula Miranda - Agência Carta Maior
 

Para os não familiarizados com o termo, fuleiro é um adjetivo, muito utilizado pelos nordestinos, que define algo ordinário, reles. Essa é, sem dúvida, a melhor conceituação para o atual estágio do capitalismo em nosso país. Já se falou em capitalismo industrial, pós-industrial, capitalismo financeiro, capitalismo predatório, selvagem etc. Mas eis que a definição que lhe cabe melhor é esta: capitalismo fuleiro.

Na verdade, é o jeito brazuca de ser capitalista. Uma possível contribuição do velho "jeitinho brasileiro" à Economia. É uma espécie de arremedo de capitalismo. Às vezes chamado cinicamente de capitalismo possível. Lançando mão da desgastada imagem de ser o Brasil um país em construção, é mais ou menos como utilizar na reforma de um sobrado barroco materiais próprios da arquitetura modernista. A estrutura continua carcomida, mas a aparência é ótima, mesmo que de gosto duvidoso. Só que não se vive de aparência, um dia a casa cai - revelando assim a sua intrínseca ruína.

Reconhece-se um entusiasta desse sistema econômico ao ouvi-lo propalar expressões como "custo-brasil", "déficit intrínseco da previdência", "salário-mínimo possível", "encargos recessivos" etc.

Geralmente, são empresários, intelectuais e tecnocratas órfãos do (des)governo tucano, espécimes únicos como os da chamada "direita democrática" e até mesmo membros da chamada imprensa chapa-branca que atuam nos cadernos de economia ou publicações especializadas em negócios. São verdadeiros agentes da "deseconomia" e da desinformação.

É possível sentir as conseqüências desse tipo de modelo econômico em diversas situações ou ocasiões. Por exemplo, quando se caminha pelas calçadas bem cuidadas da majestática avenida Paulista (e pelas demais ruas e avenidas do país) praticamente tropeçando em indigentes. Ou quando se percebe o aumento assustador do número de pessoas que estão "preferindo" morar nas ruas. Ou ainda quando se nota o apogeu da indústria da blindagem, que é, no capitalismo fuleiro, uma espécie de indústria bélica ao contrário.

Pode-se sentir sinais desse modelo capitalista ordinário quando se percebe uma quase generalizada precarização do trabalho e dos serviços. Os trabalhadores vivem em condições análogas à escravidão.

Tudo funciona mal. A incompetência é dogmática. As empresas, repletas de funcionários insatisfeitos porque mal remunerados, passam a contratar trabalhadores menos qualificados, pois assim pagam salários ainda mais baixos e aumentam seu lucro. Porém, em contrapartida, oferecem aos clientes um serviço de péssima qualidade. Quem nunca passou pela triste situação de solicitar, por telefone ou pessoalmente, uma informação singela a uma empresa qualquer e seguir o périplo irritante de ser transferido de setor em setor, num verdadeiro calvário também chamado de tour-empresa?

Alguns economistas heterodoxos já estão renovando o velho e desgastado economês com expressões do tipo "Paradoxo da Fuleiragem", "Curva da Vergonha" ou "Demanda do Despautério". Os economistas dessa corrente já chegaram à conclusão de que a lei da oferta e da procura é uma ficção e que o lucro marginal depende de altas taxas de corrupção.

Piadas de mau gosto à parte, é preciso que reflitamos que capitalismo é esse que subjaz em nossas mais-que-imperfeitas relações econômicas e sociais. Será esse o melhor modelo econômico a seguir? Será que continuaremos a construir inexoravelmente essa espécie de simulacro de sociedade? Talvez devêssemos despertar em nós o Virgulino adormecido e bradar com energia: Deixa de fulêrage, cabra!


N. A. - Esse texto, com algumas modificações, foi publicado na edição de nº 43 da revista ’Caros Amigos’ e integra o livro "Balão de Ensaios - poesia e engajamento".

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