Rodoanel, importante para a economia e logística, representa ganho ambiental.

A construção dos 57 quilômetros do trecho Sul do "Rodoanel Mário Covas" tem sido objeto de polêmica relativa à questão ecológica. De fato, a imensa importância do empreendimento em termos econômicos, logísticos, viários e no tocante à salubridade urbana dos quase 20 milhões de habitantes da Grande São Paulo não deve deixar em segundo plano tal preocupação. Esta se justifica, de maneira mais específica, pelo fato de o traçado da via ser entrecortado por mananciais hídricos e vegetação. Contudo, o tema foi suficientemente discutido, em democráticas audiências públicas, verificando-se avanços decorrentes do processo de licenciamento ambiental. Além disto, mesmo sob este imprescindível enfoque, a obra apresenta vantagens. Entre perdas e ganhos, o "lucro ecológico" é significativo.

O Rodoanel Sul está orçado em R$ 2,5 bilhões. Cerca de 25% do total, ou R$ 660 milhões, destinam-se às compensações ambientais. Sua área de influência, abrangendo os municípios de São Paulo, Embu, Itapecerica da Serra, Embu-Guaçu, São Bernardo do Campo, Santo André, Ribeirão Pires e Mauá, comprometerá 287 hectares de vegetação. No entanto, já está projetada a compensação por outros 1.017 hectares. Também serão criados dois parques, que somam 600 hectares, e recuperado o do Pedroso, em Santo André, com 580 hectares. Está prevista, ainda, a construção de barragens de contenção para proteger a represa Billings. A obra também reduzirá a poluição atmosférica da área urbana, que tem nas emissões dos gases veiculares e materiais particulados a sua principal causa, melhorará o trânsito e o tempo de deslocamento da população e diminuirá riscos de acidentes com produtos perigosos nas cidades.

Consideradas essas premissas, é pertinente analisar o quanto a obra é estratégica para a implementação do transporte intermodal, viabilizando a transposição ferroviária do Brasil Central aos portos de Santos e São Sebastião, e acessos mais fluídos aos aeroportos "Governador Franco Montoro", em Cumbica, e Viracopos, em Campinas, à Hidrovia do Tietê Paraná e à malha rodoviária. Ou seja, trata-se de empreendimento nacional, pois facilitará o fluxo de cargas destinadas à exportação e ao maior mercado consumidor interno, a Grande São Paulo. Os 170 quilômetros que totalizam o traçado completo do Rodoanel resultarão em queda de 30% nos custos de frete e logística e de 15%, em média, no tráfego urbano.

Sob o enfoque do ABCD, o trecho Sul também é fundamental. A região, com 2,54 milhões de habitantes, tem frota de 786.278 veículos. Dado o seu alto índice de industrialização e desenvolvimento, sofre muito com a ausência de alternativa viária que desafogue as vias urbanas. Além disto, o rodoanel irá melhorar muito a logística relativa ao fluxo da produção industrial, ampliando a velocidade da reposição de peças e componentes e o transporte dos bens acabados à rede de distribuição. Isto é particularmente importante para um núcleo de municípios responsável por 45,8% da produção nacional automotiva, que ali surgiu, há 50 anos, na esteira do Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitscheck. Aliás, a região é responsável por 12% de toda a atividade industrial paulista e, além das grandes montadoras de automóveis, destaca-se pela força de seu complexo químico-petroquímico e fábricas de autopeças. Nos últimos anos, acompanhando tendência mundial, observou-se ali crescimento expressivo do comércio e do setor de serviços.

São Bernardo do Campo, com seus 788.560 habitantes e 265.872 veículos, exemplifica bem essa expansão. Números do Ministério do Trabalho o apontam como São Bernardo, São Paulo e Campinas como os municípios que mais criam postos de trabalho no Estado de São Paulo. Seu saldo positivo de empregos, entre janeiro de 2005 e janeiro de 2006, foi de 13.963 vagas. A cidade, de maneira pró-ativa, está integrando seu plano de desenvolvimento urbano ao cronograma do rodoanel.

A Prefeitura acaba de firmar convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para investimento de US$ 254 milhões, em duas fases. Na primeira, são US$ 120 milhões (US$ 72 milhões financiados pelo organismo multilateral e US$ 48 milhões em contrapartida da municipalidade). A segunda etapa abrange US$ 134 milhões. Os recursos, que significam o maior volume de crédito do BID a um município brasileiro que não seja capital, serão empregados em um conjunto de obras viárias, infra-estrutura, urbanização, equipamentos e serviços. A meta é fazer investimentos em áreas degradadas visando recuperá-las com a construção de espaços públicos para a comunidade: Parque do Alvarenga, estradas, parques, ciclovias. Estima-se que a implementação do programa crie 22 mil empregos diretos e 62 mil indiretos.

Todos os dados anteriormente analisados, pertinentes ao País, ao Estado e à Região do ABCD, bem como os exemplos de São Bernardo do Campo, deixam apenas uma certeza: a relação custo-benefício da implementação do Rodoanel é muito positiva para a economia e os setores produtivos. Somado isto, o empreendimento é imprescindível à qualidade de vida de um dos mais importantes protagonistas da prosperidade nacional: o habitante da Grande São Paulo.

Nota do Editor: William Dib é médico cardiologista, prefeito de São Bernardo do Campo e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.