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Opinião
25/06/2006 - 16h19
Fome de saber
Fabio Arruda Mortara - Pauta Social
 
Acesso ao conhecimento é condicionante à erradicação da fome

Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) demonstram que, mantidas as atuais tendências de pobreza e distribuição de renda, os objetivos da ONU de reduzir à metade o número de pessoas que passam fome não serão alcançados em 2015, como prevêem as Metas do Milênio, mas somente no ano de 2150. É muito grave este alerta feito em Porto Alegre pelo secretário-geral da FAO, Jacques Diouf, durante a 2ª Conferencia Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, realizada em março, na capital gaúcha.

Políticas públicas voltadas ao crescimento sustentado da economia, a multiplicação de empregos e ações para acelerar a inclusão social constituem estratégias urgentes e articuladas para o combate à fome e à miséria. No entanto, é necessário um olhar mais atento a uma questão crucial: não é possível atenuar a pobreza e a concentração de renda sem a democratização do conhecimento. Somente o acesso à informação, à cultura e ao saber pode oferecer melhores oportunidades de ascensão socioeconômica a quem está próximo ou abaixo da linha da miséria.

Assim, é preocupante avaliar os números constantes de estudo conjunto do Instituto de Estatísticas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância): 115 milhões de crianças em idade de educação primária estão fora da escola, em todo o mundo. A pesquisa, intitulada Children Out of School: Measuring Exclusion from Primary Education (Crianças Fora da Escola: medindo a Exclusão da Educação Primária), inclui dados de 80 países, diagnosticando questões como as disparidades de oportunidades educacionais, de renda e gênero. O trabalho demonstra, por exemplo, que o percentual de crianças pobres fora da escola (38%) é mais de três vezes maior do que esse mesmo indicador em classes com boas condições financeiras (12%).

A premência do acesso ao conhecimento realça o significado da última Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada em março. Como ocorre desde a sua criação, há 22 anos, trata-se de uma feira muito importante para o estímulo ao hábito de leitura. Milhares de pessoas que não têm o hábito de freqüentar livrarias acabam tomando gosto pelo universo das letras ao visitar o evento, um dos maiores do gênero em todo o mundo. Por outro lado, números divulgados durante a Bienal, de que o índice de leitura dos brasileiros é de 1,8 livro por habitante/ano, contra cinco ou seis nos Estados Unidos e Europa, evidenciam que nosso país inclui-se entre os que têm negligenciado o acesso à educação a extensas camadas da população.

Não cabe apenas à iniciativa privada investimentos e esforços vultosos como a organização de um evento do porte das bienais de São Paulo e do Rio de Janeiro e das feiras de livros realizadas em outras capitais. O Brasil precisa de políticas públicas eficazes para incluir o ensino e o conhecimento entre os principais vetores da redução da miséria. É verdade que, nos últimos dez anos, melhorou substancialmente o índice de matrículas nas escolas. Praticamente, há vagas para todas as crianças em idade escolar no ensino público. Entretanto, a qualidade ainda está muito aquém da necessidade da Nação de ingressar na chamada sociedade do conhecimento.

As editoras brasileiras têm feito imenso empenho em prol da publicação de conteúdos de qualidade. A indústria nacional da comunicação gráfica, por sua vez, investiu muito em tecnologia, que, no caso dos livros, traduziu-se na extrema qualidade visual, aliada a uma grande variedade de sofisticados acabamentos, sendo notável a melhora das edições expostas na Bienal e nas livrarias.

As entidades de classe da cadeia produtiva do livro também têm empreendido grande esforço no sentido da multiplicação de bibliotecas públicas, ampliação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e distintas campanhas no âmbito do Terceiro Setor. Porém, sem ensino gratuito de qualidade, o que implica a transformação das escolas da rede pública em centros de excelência em educação, saúde e alimentação para crianças de baixa renda, a fome de saber continuará sendo uma das principais características da miséria e da exclusão.


Nota do Editor: Fabio Arruda Mortara é empresário gráfico, é presidente executivo da Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG).

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