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Crônicas
29/06/2006 - 09h01
Eu me contundi no Pacaembu
José Paulo Lanyi
 

Poucos jogadores de pelada podem se orgulhar disso, você há de convir. É pouco, argumentarão os exigentes torcedores brasileiros. “Fez gol ou não fez?”, provocará o desmancha-prazeres.

Era um jogo vereadores x jornalistas. Cheguei cedo, reconheci o gramado, brinquei com os bandeirinhas (“Vão apitar jogo de político? Cuidado com a carteira...”). Os auxiliares riram e confraternizaram com este atacante de pouco mais de 1,70 m. Rompedor, matador, raçudo. Um jogador técnico, como os brasileiros, com alma de uruguaio (argentino, nem pensar...). Sim, estou falando de mim mesmo. Como nunca estive nas manchetes do Lance! ou do diário A Bola (ah, os portugueses e sua proverbial obsessão pela clareza...), faço eu mesmo a minha autocrônica...

Saiba que sou um atleta de experiência internacional. Certa vez, caminhava entediado por um parque de Kilburn, o bairro irlandês em que morei por algum tempo em Londres. Observei alguns ingleses tocando a bola. Estavam formando dois times, quando me apresentei para jogar. Os gringos aceitaram, indiferentes, sem ao menos notar o porte do jogador de pedigree.

E eu, só esperando aquela pergunta, que não vinha: “- Where are you from?”...

Pouco antes do início da partida, resolvi pegar o atalho:

- It’s my first match here. You know, I’m Brazilian...

B-r-a-z-i-l-i-a-n. No mundo inteiro, notadamente para os fanáticos de Sua Majestade, soa como “A Nicole Kidman mandou dizer que está no quarto, te esperando, de baby-doll...”

Passaram a me tratar com reverência. E a investir no meu futebol (note, falo como um craque, previsível, repetitivo...). Lançaram-me várias vezes e não se arrependeram. O jogo terminou uns 8 a 4 para nós, se bem me lembro... Quatro gols deste cronista. A glória em torrão britânico. Praticamente um feito em uma Copa do Mundo...

Dez anos se passaram. São Paulo, Brasil, Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho. Eu faria a minha estréia em gramados profissionais. Não deixaria por menos. Antes do jogo, fui entrevistado por uma equipe da allTV. Prometi dois gols. Intimamente, pensei em rever essa conta, quando soube que o técnico Fernando Lancha optara por me deixar no banco de reservas. Coisas do futebol...

Dez minutos antes, eu me alongara, aquecera-me, contorcera-me, não sem esquecer uma distensão muscular na perna direita que sofrera poucos anos antes, em um racha praiano no Rio Grande do Sul. Futebol gaúcho é coisa de macho. Ao menos, há que ter músculo para agüentar o frio. Apesar de toda a macheza, a panturrilha estourou e voltei para São Paulo de muleta.

Agora seria diferente. Estava aquecido, alongado e... Esqueça, de nada adiantou, o técnico, aquele... meu colega, me deixou no banco. O jogo começou, fizemos um gol e me mantive lá, em pé, à beira do campo, pronto para “contribuir com o professor e conquistar um resultado positivo para essa torcida maravilhosa que sempre nos apoiou”.

Chegou a minha vez, logo aos quinze minutos. Alonguei-me mais um pouco, o que então considerei suficiente, e entrei no lugar de um companheiro cansado (jornalista é assim, quinze minutos valem um jogo inteiro...). Dois ataques depois, teria comemorado, não fosse o fominha do cara da rádio comunitária, que, além de ignorar a minha posição mais vantajosa na grande área, chutou para fora.

Reclamei, esbravejei e tive como resposta: - Você estava impedido!

O árbitro desmentiu-o, dizendo, de passagem: - O sete dava condição...

Pra que o juiz foi dizer aquilo? Enchi-me de razão e passei a repetir: - Tá vendo? O sete dava condição! O sete dava condição!

Um minuto depois, ao voltar para o meio do campo, senti uma fisgada na perna esquerda. “Não acredito...”, balbuciei, desolado. Sofrera uma contratura, um estiramento, algo dessa família. Saí de campo, incrédulo, depois de jogar... CINCO MINUTOS!!!!!

Tal foi a minha jornada, num jogo em que acabaríamos por golear. Sim, é verdade, o primeiro impulso é ridicularizar-me. Altivo, prefiro responder-lhe com uma pergunta. E você? Já se contundiu no Pacaembu?


Nota do Editor: José Paulo Lanyi é jornalista, escritor e dramaturgo, autor do romance "Calixto-Azar de Quem Votou em Mim", do romance cênico (gênero que criou) "Deus me Disse que não Existe", da peça "Quando Dorme o Vilarejo" (Prêmio Vladimir Herzog) e da coletânea “Teatro de José Paulo Lanyi e Outros Loucos” (no prelo), todos da editora O Artífice. Trabalha com o músico paulistano Flávio Villar Fernandes, com quem compôs a trilha “Invernada” e a sinfonia “Atlântica”.

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