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Opinião
29/06/2006 - 13h00
A base do pensamento social brasileiro
Alcides Leite
 
O pensamento social e a análise fundamentalista do mercado financeiro

Com a comemoração dos 70 anos do clássico: "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, volta à tona a discussão sobre quais seriam as obras fundamentais para compormos um entendimento da formação histórica, social e econômica do Brasil.

Quase como ocorre com a escalação da seleção brasileira, cada um tem o seu time preferido. No entanto, parece que a maioria coloca Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Holanda), Casa Grande e Senzala (Gilberto Freyre), Formação do Brasil Contemporâneo (Caio Prado Júnior) e Os Donos do Poder (Raymundo Faoro) como a melhor base teórica para a interpretação do Brasil moderno, o chamado quadrado mágico do pensamento social brasileiro.

É evidente que autores como Joaquim Nabuco, que muito influenciou o pensamento de Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, que cunhou o termo: "Nova Roma" para o Brasil contemporâneo e Celso Furtado, que serviu de mestre para uma miríade de pensadores desenvolvimentistas não podem ser colocados como secundários em relação ao quadrado mágico. No entanto, por questões diversas, os quatros mestres ainda se situam em patamar singular.

Fruto da escola sociológica americana e da influência das características coloniais da cultura e economia nordestinas, Gilberto Freyre via no pluralismo racial e na mestiçagem, uma característica marcante para a formação da personalidade do Brasil contemporâneo. Embora não desprezasse a importância da base econômica e política como determinantes no processo de desenvolvimento, Freyre teve a genialidade de escolher um caminho-crítico diferente. A crista percorrida por ele foi mais sinuosa e difícil, porém mais segura e mais rica. Somente hoje, após a passagem dos furacões socialistas e liberais pelo mundo, os críticos começam a fazer justiça com o mestre do Solar de Apipucos.

Sérgio Buarque de Holanda, que além de mestre da sociologia paulista, foi criador/inspirador da "Síndrome do Pai" (eu sou o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, pai do Chico Buarque...), sofreu forte influência da escola sociológica alemã, mais historicista. A análise do comportamento moral do colonizador português (inverso ao que exercia em Portugal) numa terra tropical, com dimensões continentais e poderio econômico superior à metrópole, aponta para a formação de uma nova moralidade, a moralidade brasileira. A influência dessa nova moralidade no processo de desenvolvimento do país é o toque de gênio na obra do pai do Chico. A cunha do homem cordial é uma peça da maior importância na história do pensamento brasileiro.

Caio Prado Júnior, filho da elite paulistana, que via o Brasil pelas costas, foi o que se costuma chamar, ainda que injustamente, de rebelde sem causas. A grande questão era apoiar ou não o pensamento dominante da elite. O projeto era internacional, tanto a favor, como contra. O liberal-capitalismo, fruto/raiz da exploração econômica das colônias pelas metrópoles, e a teoria marxista aliada às experiências de socialismo real, sobrepunham-se às soluções nacionais. Ser senhor ou ser escravo dependia apenas de uma escolha ideológica. Isto, hoje, parece pouco para entender e explicar o Brasil.

Raimundo Faoro viu a coisa sob outro ângulo. O autor gaúcho, de inspiração claramente weberiana, ressalta a importância da herança patrimonialista portuguesa sobre a formação do Estado brasileiro. A consolidação de uma nova nação, grande e moderna, com um desenho institucional-legal, uma estrutura estamental e uma ordem social-burocrática bem definida, criaram caminhos-críticos para a ascensão do cidadão ao poder e para a formação da elite político-econômica nacional. Também aí podemos ver um toque genial. Um outro caminho, uma outra ótica para entender o Brasil contemporâneo, que segundo Tom Jobim, não é tarefa para principiantes.

O conhecimento da base do pensamento social brasileiro assume grande importância para a análise da conjuntura econômica nacional. Sem um entendimento das peculiaridades de um País complexo como o Brasil, dificilmente os analistas podem emitir opiniões seguras, que não passem de meros palpites. Com maior estabilidade política e econômica, a análise fundamentalista do mercado financeiro passa a ganhar maior importância. Surge no cenário econômico a médio e longo prazo. Embora Keynes tenha dito que no longo prazo estaremos todos mortos, o Brasil ainda continuará de pé por muito tempo.


Nota do Editor: Alcides Leite é professor do Centro de Conhecimento Equifax e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.

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