Um dos meus tiques é esfregar o indicador no polegar. Depois, compulsivamente, rôo as unhas e gosto de sentir, bem perto do nariz, o cheiro do esmalte natural que sai. Minhas cutículas vivem esfoladas. Maltrato minhas mãos, que podiam ser bonitas. Já os pés têm dois calos, provavelmente porque os sapatos que uso apertam meus dedos. Devem ser tortos. Os pés.

Tenho um hábito irritante, o de assoprar entre os dois dentes superiores da frente. O barulho que faz é tipo um frisk frisk, bem estranho. Muita gente se assusta com isso. Acho que para quem está perto o mais desagradável deve ser a careta que faço.

Também devo fazer caretas quando danço. Dependendo da música, eu perco o senso de ridículo. E às vezes estampo um sorriso meio idiota no meio da cara. Quando percebo, fico com vergonha e paro. Mas é incontrolável, acho, ou então não sorriria assim, já que eu sei que não é legal.

Uma coisa que não controlo mesmo são as explosões de mau-humor. É impressionante minha intolerância em determinadas situações. Melhorei bastante, embora ainda dê vexame em bares com atendimento ruim e gente mal-educada. Discuto com guardadores de carro que querem cobrar caro demais. Acabo pedindo desculpas, o que não resolve. Nessas horas, eu devia sentar para me acalmar.

Se fico muito tempo sentado, minhas costas vão se curvando. Qualquer um fica feio assim. Outra postura ruim minha é quando eu encosto em paredes. Faço muito isso. Não é elegante. Ando com o queixo empinado, parece arrogância. Tento corrigir essas bobagens, mas dá preguiça.

A maior preguiça que eu tenho é a de acordar cedo. Eu digo para as pessoas que eu não funciono de manhã, que é o período do dia mais importante para quem precisa trabalhar, como eu. Compenso escrevendo de madrugada, o que me faz dormir quase de manhã e é muito ruim para quem precisa acordar cedo. Dizem que é sintoma de depressão.

Mesmo acordando tarde, eu demoro a me levantar. Primeiro eu fumo um cigarro, ainda deitado. Quando me trazem café preto na cama, eu agradeço. Depois folheio o jornal, ligo o computador, navego na internet, respondo e-mails, tomo um banho demorado, brinco com os gatos, faço hora. Sempre saio de casa atrasado. Quase nunca tenho fome para almoçar.

Acho que é porque fumo dois maços por dia. O cigarro tira o apetite e o paladar. A vontade de comer só vem no final da tarde, hora em que se come mal. Só jantar e ainda por cima beber diariamente devem impedir que eu perca minha barriga. Preciso fazer muito abdominal, e eu não faço. Consigo treinar musculação, ouvindo AM num radinho de pilha. Esteiras e ergométricas são chatas. O cigarro compromete o fôlego, provoca mau hálito e deixa minhas roupas com aquele cheiro. Eu nem sinto mais.

E ouço cada vez menos. A miopia eu operei, eram nove graus, voltaram dois. Não reclamo. A queda de audição é um problema que vem da infância, provavelmente caxumba. O ouvido esquerdo, não conto com ele, é zero. O direito, 80%. Não sei por que, ainda por cima, ele tem mania de fechar, de repente. Fico completamente surdo por vários minutos. Sabe como quando a gente sobe ou desce a serra, ou a pressão que dá dentro de avião? Os médicos não sabem o que fazer.

Tenho medo deles. Os médicos quiseram me operar de um tumor benigno, sem necessidade. E acho que vão cair, os aviões. Mas não são meus únicos medos: até de baratas e altura. Dirijo com cuidado, não gosto de velocidade. Guardo dinheiro sempre que posso, não se sabe o dia de amanhã. Todos nós morremos. E viver anda bem complicado. Só não tenho medo de mulher. Elas me entendem. E algumas, apesar desse meu jeito, gostam de mim.

Nota do Editor: Marco Antonio Araújo é jornalista, ex-professor e coordenador de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Trabalhou nos jornais A Voz da Unidade, do PCB; A Gazeta Esportiva, onde foi diretor de redação e criou as revistas Educação, Língua Portuguesa, Fera! e Ensino Superior.