Alguns intelectuais, entre eles amigos queridos, ficaram incomodados com a escolha de Patativa do Assaré como um dos nomes da lista de dez autores para o vestibular da Universidade Federal do Ceará. Afirmam que Patativa não é poeta, pois foge aos cânones lingüísticos, morfológicos e sintáticos determinados pelo saber acadêmico. Ora, ora. Patativa é poeta sim, mais poeta do que muitos que sabem usar metáforas, metrificação, rimas ricas, metalinguagem, pois seguem as regras da poética e conhecem teoria e versificação. De nada disso precisou Patativa. Extraiu de suas dores, do viver e da própria limitação, o ritmo e a beleza do que versejava de improviso e hoje é objeto de estudo acadêmico em várias universidades. Ariano Suassuna diz que "um escritor nascido no Nordeste, tem que ser tão fiel ao seu local de nascimento e à sua comunidade como Guimarães Rosa foi fiel a Minas." Quem poderá negar isso de Patativa que, até no nome, mostra o local onde nasceu? O grande problema é que por não usar imagens, símbolos, metáforas e retórica consagrados na arte clássica de poetar, Patativa seria "um poeta menor", um simples cordelista e não mereceria destaque de uma comissão douta que, por justiça e nordestinidade, teve a sensibilidade de escolher Patativa como tema para estudo por jovens vestibulandos. Esses, em sua maioria, não dão valor às suas origens, engolfados por uma linguagem "tipo assim", global e factual. Patativa, de poucas letras e muito saber, falou até sobre Luiz de Camões, o maior poeta da língua portuguesa: "Aqui de longínqua serra, de Camões o que direi? Quer na paz ou quer na guerra que ele foi grande eu bem sei, exaltou a sua terra mais do que seu próprio rei e por isso é novo no coração do seu povo e eu, que das coisas terrestres tenho bem poucas noções, porque não tive dos mestres as preciosas lições, só tenho flores silvestres pra coroa de Camões, veja a minha pequenez ante o bardo português.". Escolhido "Doutor Honoris Causa", "Cearense do Século" e tendo ganhado a "Sereia de Ouro", não poderia ser alijado e esquecido pela UFC que sempre seguiu a máxima "o universal, pelo regional"? Está na hora de se misturar literatura com vida, com o real, esquecendo os encastelamentos, as tertúlias que pouco ou nada criam, a arte que não tem compradores e seguidores, e partir para uma visão menos elitista, mais simples, verdadeira e fiel às origens que muitos procuram esquecer.
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