Não deu tempo de segurar o choro. Traiçoeiro, veio de modo repentino, em frente da televisão. Uma tristeza profunda, vergonha e mal-estar. Sua esposa olhava com surpresa. Em 20 anos de casamento, nunca o vira chorar. Os filhos, adolescentes, com certo sarcasmo, pensaram em rir. Só pensaram. Levantou-se, com os olhos rasos d’água, pegou a lata de cerveja e saiu da sala. O jogo caminhava para os 30 minutos do segundo tempo. Como sempre, sentara-se no canto esquerdo do sofá ao lado da mulher, que estava na outra extremidade. Não havia convidado amigos. Queria concentrar toda sua atenção naquela partida. Na sala, completavam o cenário seus dois filhos, acomodados nas poltronas, na lateral direita do sofá. Sem reação, os meninos viraram-se para a mãe. Ela, instintivamente, pegou a vasilha em cima da mesa de centro, recolheu as pipocas que estavam no chão e foi para a cozinha. Os filhos saíram para casa dos amigos, pela porta da frente. A televisão, comprada especialmente para a Copa do Mundo, transmitia para ninguém a desilusão daquele torcedor fanático. Na cama, com o rosto lavado, os olhos vermelhos e o gosto amargo de cerveja na boca, ele recompunha os ânimos. Não iria trabalhar no dia seguinte nem dar explicações a ninguém. Agora, restava esperar mais quatro anos. Nota do Editor: João Prata, 25 anos, jornalista. Free lancer, faz pós-graduação em jornalismo contemporâneo pelas Faculdades Jorge Amado. Mora em Salvador desde janeiro de 2005. Nasceu em São Paulo, onde se graduou pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM), em 2003. Na capital paulista, trabalhou durante dois anos na Space Produções. Foi editor e repórter do portal infantil RadarKids e do site de gastronomia Seu Restaurante. Em 2004, foi repórter do portal da Petrobras, Conpet.
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