A encrenca entre o programa "Fantástico" e o técnico Carlos Alberto Parreira bota outra vez em discussão o significado de "privacidade" e os limites nas relações entre a imprensa e as celebridades. Nada pode ser mais "privado" do que o ocorrido entre o presidente Clinton e a jovem gordinha Mônica Levinski numa dependência da Casa Branca, com as portas fechadas à chave. Mas, num estádio de futebol, com dezenas de milhares de espectadores, um protagonista de espetáculo esportivo, técnico de um dos times, pode exigir "privacidade" ao comentar ou opinar sobre algo relativo a esse espetáculo? E o jornalista, em busca de informar da melhor maneira possível o público interessado no espetáculo e seus personagens, tem ou não o direito de revelar o que acontece em campo, nos bancos das equipes, nas tribunas de dirigentes e nos vestiários? Nessa busca, ele tem ou não o direito de colar o ouvido em portas, fingir-se de gandula, usar gravador e, eventualmente, aprender a ler lábios ou pedir a ajuda de quem já saiba fazer isso? Sinceramente, não vejo qualquer violação da ética profissional no trabalho feito pela equipe do "Fantástico". Com gravador escondido, já fingi ser segurança no salão de banquetes do Waldorf Astoria, para saber o que banqueiros pensavam sobre a dívida externa brasileira. Ou as conversas entre Ayrton Senna e engenheiros japoneses sobre os segredos do motor Honda. Qual é a diferença entre usar gravador ou leitura labial para obter informações que o público tem todo o direito de conhecer? Parreira tem mostrado um ranço autoritário em relação à imprensa, que o leva até a considerar "um exagero" o número de jornalistas enviados por jornais e tevês à Alemanha. Isso ele achou bacana dizer em entrevista coletiva. Ele receia trocar Emerson por Gilberto Silva e acha filho da p... ou coisa parecida quem critica a escalação da dupla Ronaldo-Adriano. Isso ele queria que só o Zagalo e o Américo Faria soubessem. Que tal todos nós aprendermos leitura labial?
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